A indissolubilidade entre
psicanálise e infância se explica pelo fato de Freud enunciar a infância como a
base causal necessária para fundamentar a interpretação dos males da vida
psíquica. (Winnicott, conforme tradução de Anzieu, 1974, distingue duas crises
importantes na vida de um ser humano depois da infância: a crise de
adolescência, que prepara a entrada na vida adulta e a crise da vida adulta que
é mais aparente, sendo mais fácil a identificação de seus processos que
na vida adulta são mais elaborados do que na juventude. Na vida adulta as
pessoas que passaram bem por todas as fases têm capacidade de manter uma
serenidade construtiva diante de seu fim, mesmo que sinta o mesmo de forma
eminente.
Clínica
psicanalítica com Crianças
A indissolubilidade entre
psicanálise e infância se explica pelo fato de Freud enunciar a infância como a
base causal necessária para fundamentar a interpretação dos males da vida
psíquica. A anamnese com crianças deve levar em conta os pais e todos os
vínculos da criança. São inúmeras as possibilidades de técnicas para diferentes
atendimentos nas mais diversas situações as quais o ser humano está submetido, a
análise de crianças leva a “família” para o divã e não apenas o paciente.
A
psicanálise voltada para criança está comemorando cem anos de existência. Sua
história começou com Freud ao analisar o pequeno Hans que sofria de sintomas
fóbicos. O Historial clínico, 1908 desmobilizou os analistas à escuta dos
conflitos, angústias e sofrimentos de crianças e abriu o precedente para a
prática analítica de pacientes infantis. Nessa fase, porém a criança era
tratada como um adulto em miniatura o que tornava essa prática numa esquisitice
da psicanálise. Freud afirmava que a psicanálise não poderia ser feita com
crianças. Em 1938, Freud reafirma que a psicanálise feita com crianças era um
fracasso. A análise é de fundamental importância para esclarecer as inúmeras
variáveis que fazem parte desse emaranhado de situações e é a base para uma
correta indicação das possibilidades terapêuticas.
Em
1871, nasce a vienense Hermine-Hug-Hellmuth que é considerada a “inventora da
psicanálise de crianças”. Hermine aplica as teorias de Freud à análise das
crianças e apresenta, em Haia, no congresso internacional de 1920 o resultado
de seus trabalhos com crianças. Em 1927, Sophie K. Morgenstern, polonesa,
apresenta sua técnica de análise com crianças por meio de desenhos. Os desenhos
das crianças era a técnica paralela da livre associação. Esses trabalhos são
precursores das teorias propostas por Anna Freud e Melanie Klein que criaram
duas escolas psicanalíticas. Melanie Klein publicou seu livro sobre psicanálise
de crianças em 1932, a partir dessa publicação a psicanálise de crianças se
consolida e toma cominhos próprios com orientações kleiniana, de Anna Freud e
mais tarde winicottiana.
Melanie
Klein considera, na análise as relações vinculares da criança com seus familiares,
pais, mães e irmãos e considera as brincadeiras das crianças como análogas às
livres associações dos adultos. Winnicott tira de Klein as ideias para seus
trabalhos psicanalíticos, mas as usam a seu próprio modo. Ele escreve: o que
faz com que um bebê comece a existir, a sentir que a vida é real, a achar que a
vida vale a pena ser vivida (Winnicott, D. V. A localização da experiência
cultural (1967) p.116), era o cuidado maternal. O papel essencial da mãe era
proteger o self de seu bebê. As teorias de Klein e Winnicott dão início à
“Escola Britânica dos teóricos de relações objetais1”.
Donald
Woods Winnicott nasceu em 1896 em Plymouth. Formou-se em medicina
especializou-se em pediatria e desenvolveu a partir das teorias de Klein a
psicanálise de crianças.
Clínica
psicanalítica com adolescentes
Os
adolescentes já têm considerado o complexo de Édipo e entram no setting como
qualquer adulto, embora haja as especificidades emocionais da própria idade
como a busca de identidade, de aceitação, autoafirmação, mudanças corporais na
atualidade a geração de jovens é órfã. Seus pais, no geral estão longe de sua
infância. Eles foram à escola muito cedo, a partir dos dois anos de idade, no
geral. O mal-estar na civilização do século XXI.
Elliott
Jaques em “Mort et Crise du Milieu de Vie” conforme tradução de Anzieu, 1974,
partindo de Melanie Klein, distingue duas crises importantes na vida de um ser
humano depois da infância: a crise de adolescência, que prepara a entrada na
vida adulta, segundo Elliott, essa crise tem contorno esquizoparanóide. Anzieu
ilustra que criações artísticas da juventude demonstram uma criação contínua,
correspondendo à vida sexual dessa idade. A criatividade do jovem é rápida,
espontânea, febril, demonstrando a dinâmica das emoções e das paixões. A
juventude não pensa na morte, é otimista, reacionária, dinâmica, impaciente. O
jovem separa as pulsões de vida e de morte, a pulsão de vida é idealizada
introjetada e a pulsão de morte é projetada. Tudo nessa fase é bom, o mal está
fora, a morte não lhe concerne.
Com
a falência da função paterna a adolescência tem se prolongado e penetrado no
comportamento adulto. Muitas vezes os pais se espelham nos filhos imitando-lhes
a forma de se vestir, falar e de se comportar. Conforme Nara Dantas (tese de
mestrado), bem que se poderia escrever um texto “Sua Majestade o Adolescente”.
A
crise da adolescência se caracteriza por perdas dos ideais e do corpo infantil,
do amor aos pais, luto do que não pode mais ser sustentado como verdade. Nos
grupos os adolescentes diluem mutuamente essas perdas e criam individuação.
Trata-se de identificação horizontais onde cada um descobre sua individualidade
nesse processo de mistura. A função fraterna proposta por Kehl (2000 a, p. 31),
é diferenciada daquela luta fraticida à qual Freud se refere em “Totem e Tabu”.
(1913-1914) ocasionando a morte do pai da horda. Nesse caso o “irmão”,
encontrado no ambiente funciona como objeto de desejo e de identificação.
Clínica
psicanalítica da vida adulta
A
crise da meia-idade marca a entrada na vida adulta e, segundo Elliott, descrita
por Anzieu, consistiria numa reelaboração da posição depressiva. Essa segunda
crise corre por volta dos quarenta anos. Na vida adulta ela é mais aparente,
sendo mais fácil a identificação de seus processos. Os processos criativos na
vida adulta são mais demorados do que na juventude. O adulto encontra nas suas
realizações artísticas prazeres mais espaçados, mais firmes e mais elaborados
do que na juventude. As criações, nesta fase demonstram o controle das emoções
e das paixões. A elaboração do processo cheia de retoques, detalhes, reflexões,
comedimentos reforçam o controle interno do adulto frente à sociedade.
O
ser humano maduro toma consciência de sua morte. Fica atento ao drama da
condição humana, mas se resigna frente ao inevitável, “a visão trágica do
mundo” de Goldman torna o adulto mais amalgamado com o mundo que o rodeia.
Nessa fase vive-se os riscos de depressão de desenvolvimento das defesas
maníacas, obsessivas ou hipocondríacas. A ilusão de eternidade da adolescência
cede lugar, na maturidade, à certeza da morte. Na vida adulta as pessoas que
passaram bem por todas as fases desde o seio bom e mau, Édipo, tem capacidade
de desenvolver uma relação mais serena com seu inevitável fim, daí a atitude de
coragem, amor compreensão do outro e de sublimação estarão presentes nessa fase
da vida. Reforçando que essa maturidade é inerente às realizações das etapas
anteriores da vida.
Para
a psicanálise o inconsciente, constituído na infância, através da vivência de
etapas pré-edípicas e edípicas revela o cerne do psiquismo. O que se vive
depois são revivescências dessa fase. Assim analisar o adolescente e o adulto é
investigar a vivência de suas fases infantis dando-lhes oportunidades de
encontros com essas fases e possibilitando-lhes, se possível, um novo rearranjo
emocional frente aos desafios da vida. A psicanálise, através da relação
analista e analisando, propõe uma segunda chance para que o paciente reative,
reviva e entenda de uma maneira diferente os problemas de suas relações
anteriores para que, eventualmente, haja a possibilidade de modificações das
defesas e estratégias do curso da vida.
BIBLIOGRAFIA
ANZIEU,Didier. Psicanálisar. Aparecida, SP. Idéias & Letras, 2006.
PHILLIPS, Adan.
Winnicott. Aparecida, SP. Idéias & Letra, 2006.
Revista Psique. Edição especial. Artigo:
“Novos Rumos para a Psicanálise”. José Renato Avzaradel, p. 32 a 39 e “Crianças,
Cem anos de Existência”. Nara Amália Caron, p. 26 a 31.