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segunda-feira, 28 de julho de 2014

PSICANÁLISE VINCULAR

INTRODUÇÃO
Na psicanálise o vínculo sempre esteve presente ao só ser possível a análise entre paciente e psicanalista se ambos formarem vínculos. O rappot é a concretização do vínculo ao qual estou me referindo. O paciente é um dos polos do vínculo terapêutico. O psicanalista forma o outro polo, nessa linha navega as queixas, sinais, sintomas em direção ao psicanalista e as interpretações psicanalíticas em relação ao paciente. Não há paciente ou psicanalista fora de uma estrutura vincular terapêutica. Na teoria psicanalítica de Freud, o paciente carrega as situações sociais que lhes foram formadoras de neuroses. O tratamento psicanalítico é por excelência vincular.
No tratamento individual a família está virtualmente presente e o psicanalista só pode interferir na mudança de eu das personagens da família do paciente por meios virtuais que se dão a partir da mudança do paciente ligado àquela família. Já no tratamento vincular a família se faz presente dando a possibilidade ao psicanalista de interferir na reelaboração dos vínculos por meio da psicanálise. As relações vinculares entre membros de uma família são realizadas, também, através das manifestações inconscientes e dos “eus” construídos na infância. São as evidências dos complexos que permeiam as relações, que muitas vezes levam aos conflitos entre as pessoas que participam da trama relacional. A inter-relação entre sintoma individual e sintoma familiar é complexa e indissociável. Desta forma os sintomas dos sujeitos contêm e expressam uma versão do mito familiar. O psiquismo é individual, mas inclui o outro com que estamos ou estivemos relacionados.
FREUD E O PEQUENO HANS
As teorias psicanalíticas originais de Freud aplicavam-se a dupla paciente-psicanalista, porém Freud deu início à psicanálise vincular com o caso do pequeno Hans onde o pai fazia parte do setting ao fazer a ponte entre Hans e as interpretações de Freud. Fred usou a vivência do pai para apoiar a interpretação da fobia do pequeno Hans.  O tratamento do pequeno Hans está na gênese da terapia vincular. Seria impossível que esse tratamento se realizasse sem a análise das relações familiares. (Relato Semanal do Pai de Hans: ‘Estimado Professor, junto a este a continuação da história de Hans - e um capítulo bem interessante. Talvez tome a liberdade de ir vê-lo durante as suas horas de consulta, na segunda-feira e, se possível, de levar Hans comigo, na suposição de que ele vá. Hoje eu lhe disse: “Você irá comigo, segunda-feira, para ver o Professor, que é quem pode acabar com a sua bobagem, para seu bem?”). “Naquela tarde, pai e filho me visitaram nas horas de consulta”. E aí Freud  toma conta da análise de Hans, mas sempre fazendo a tríade: pai, mãe e Hans. Posteriormente, Freud introduz no cenário da análise de Hans o nascimento de sua irmãzinha: “A influência mais importante sobre o curso do desenvolvimento psicossexual de Hans foi o nascimento de uma irmãzinha, quando ele estava com três anos e meio. Esse evento acentuou as suas relações com seus pais e lhe deu alguns problemas insolúveis em que pensar; mais tarde, enquanto observava a maneira pela qual o bebê era cuidado, os traços de memória das suas próprias experiências mais remotas de prazer foram reavivados nele. Essa influência é também uma influência típica; em um número inesperadamente grande de históricos de vida, tanto normais quanto patológicos, vemo-nos obrigados a tomar como nosso ponto de partida uma explosão de prazer sexual e de curiosidade sexual ligada, como esta, ao nascimento da criança seguinte”. No sistema desse tipo de análise, Freud toma a iniciativa de acompanhar o curso da família de Hans.
A FAMÍLIA NO DIVÃ
            Quando os pais procuram um psicanalista para um filho o problema do filho pode revelar algum tipo de sintomatologia que ocorre na estrutura inconsciente daquela família. A criança e o adolescente chegam ao setting trazidos pelos pais, ou por quem os substituem. Eles são o problema para a família, mas o psicanalista os vê apenas como o sintoma.
            Com o uso das metáforas mitológicas, Freud demonstra que suas teorias vão além da singularidade de cada paciente. As figuras mitológicas representam as grandes questões humanas e o mito é a forma de expressão da relação do singular para o geral da humanidade.
As bases da Psicanálise em Freud já carrega o gérmen da psicoterapia vincular. Em nenhum momento da teoria freudiana o sujeito é desgarrado de suas origens e de suas interações. Então, o complexo de Édipo envolve pai, mão e filho ou substituto. Essa tríade é a base mais importante da teoria psicanalítica e, no meu ver, uma base vincular. O mito de Édipo é universal. Édipo é considerado o mito fundador de toda civilização. O Édipo passa, primariamente, pelas relações familiares Totem e Tabu tem ligação com a tríade do complexo de Édipo, filho, pai e mãe. A proibição de não matar o totem (pai) e não ter relações sexuais com ele leva Freud à reflexão com o social. Na horda é estabelecido o fio de continuidade do homem individual com a grande coletividade humana. Em Moisés Freud, mais uma vez faz referência ao vínculo social formador do ego e superego. “Não devemos, portanto, nos esquecer  de incluir a influência da civilização entre os determinantes da neurose. Os pormenores da relação entre o ego e o superego tornam-se completamente inteligíveis quando são remontados à atitude da criança para com os pais. Esta influência parental, naturalmente, inclui em sua operação não somente a personalidade dos próprios pais, mas também a família, as tradições raciais e nacionais por eles transmitidas, bem como as exigências do milieu social imediato que representam. Da mesma maneira, o superego, ao longo do desenvolvimento de um indivíduo, recebe contribuições de sucessores e substitutos posteriores aos pais, tais como professores e modelos, na vida pública, de ideais sociais admirados”.
A teoria psicanalítica de Freud carrega teorias que sempre envolvem o outro. Até Narciso, envolve o outro para poder Narciso ser ele se apaixona por si próprio, afasta a libido do mundo externo, não forma vínculos e dirige sua libido para o próprio ego. Na conferência “O estado neurótico comum”, (1917), Freud faz alusão à aplicação da técnica da psicanálise aos estudos das religiões, da civilização e da mitologia, essa forma de abordagem permite o vínculo entre a formação do indivíduo e o contexto cultural no qual o indivíduo está inserido.
Os mitos educam, subjetivam e operam como marcadores de lugares sociais, institucionais e familiares. Freud usou os mitos com perspicácia para embasar toda sua teoria da psicanálise. Numa vamos esgotar a riqueza de Freud, quando os pesquisadores apontam a não razão de Freud pesquisas mais sérias ressurgem suas razões.
CONCLUSÃO
A reação da personalidade total diante da situação-problema esclarece-se à luz da história total de vida do sujeito, o que somos resulta de uma vida anterior. Numa perspectiva evolutiva o passado esclarece o presente. O aparelho psíquico individual se constrói pela interiorização da matriz grupal na qual a criança pequena está imersa. Voltando a Freud se reencontra as bases para uma teoria vincular. O que ocorre é que muitos pegam carona nos ensinamentos de Freud desvirtuando-os para serem vistos como “descobridores de novas teorias”. A psicanálise das configurações vinculares já estava lá. O fato de Freud não ter trabalhado com grupos não quer dizer que não deixou a base para este trabalho. Nesta abordagem procurei demonstrar que Freud vinculou suas descobertas ao individual, familiar, grupal e ao social. A primeira rede vincular é a família, a terapia de grupos pode partir desse conceito. No grupo são muitas reações, muitos olhares, muitas defesas, mas também são muitas revelações já que a humanidade tem formação comum. Para isso serve as matrizes de referências freudianas baseadas na mitologia e na gênese de formação comum a todos nós.
BIBLIOGRAFIA
FREUD, S. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976. (Edição Standard    Brasileira das Obras Psicológicas Completas).
ANZIEU, Didier. Psicanalisar. Aparecida, S. P: Editora Ideias & Letras. 2006.
MATEUS, Tamires G. Considerações Acerca das Indicações de Atendimento em Psicanálise Vincular (Disponível em www.contemporaneo.org.br/contemporanea.php) Acessado em 04/07/2014.

FERREIRA, Fernando & PINHO, Patrícia. Psicanálise e Teoria da Vinculação. (Disponível em www.psicologia.com.pt documento produzido em 16-0102010. Acessado em 03/07/2014.

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