INTRODUÇÃO
Na
psicanálise o vínculo sempre esteve presente ao só ser possível a análise entre
paciente e psicanalista se ambos formarem vínculos. O rappot é a concretização
do vínculo ao qual estou me referindo. O paciente é um dos polos do vínculo terapêutico.
O psicanalista forma o outro polo, nessa linha navega as queixas, sinais,
sintomas em direção ao psicanalista e as interpretações psicanalíticas em
relação ao paciente. Não há paciente ou psicanalista fora de uma estrutura
vincular terapêutica. Na teoria psicanalítica de Freud, o paciente carrega as
situações sociais que lhes foram formadoras de neuroses. O tratamento
psicanalítico é por excelência vincular.
No
tratamento individual a família está virtualmente presente e o psicanalista só
pode interferir na mudança de eu das personagens da família do paciente por
meios virtuais que se dão a partir da mudança do paciente ligado àquela
família. Já no tratamento vincular a família se faz presente dando a
possibilidade ao psicanalista de interferir na reelaboração dos vínculos por
meio da psicanálise. As relações vinculares entre membros de uma família são
realizadas, também, através das manifestações inconscientes e dos “eus”
construídos na infância. São as evidências dos complexos que permeiam as relações,
que muitas vezes levam aos conflitos entre as pessoas que participam da trama
relacional. A inter-relação entre sintoma individual e sintoma familiar é
complexa e indissociável. Desta forma os sintomas dos sujeitos contêm e
expressam uma versão do mito familiar. O psiquismo é individual, mas inclui o
outro com que estamos ou estivemos relacionados.
FREUD
E O PEQUENO HANS
As
teorias psicanalíticas originais de Freud aplicavam-se a dupla
paciente-psicanalista, porém Freud deu início à psicanálise vincular com o caso
do pequeno Hans onde o pai fazia parte do setting ao fazer a ponte entre Hans e
as interpretações de Freud. Fred usou a vivência do pai para apoiar a
interpretação da fobia do pequeno Hans. O tratamento do pequeno Hans está na gênese da
terapia vincular. Seria impossível que esse tratamento se realizasse sem a
análise das relações familiares. (Relato Semanal
do Pai de Hans: ‘Estimado Professor, junto a este a continuação da história
de Hans - e um capítulo bem interessante. Talvez tome a liberdade de ir vê-lo
durante as suas horas de consulta, na segunda-feira e, se possível, de levar
Hans comigo, na suposição de que ele vá. Hoje eu lhe disse: “Você irá comigo,
segunda-feira, para ver o Professor, que é quem pode acabar com a sua bobagem, para
seu bem?”). “Naquela tarde, pai e filho me visitaram nas horas de consulta”. E
aí Freud toma conta da análise de Hans,
mas sempre fazendo a tríade: pai, mãe e Hans. Posteriormente, Freud introduz no
cenário da análise de Hans o nascimento de sua irmãzinha: “A influência mais
importante sobre o curso do desenvolvimento psicossexual de Hans foi o
nascimento de uma irmãzinha, quando ele estava com três anos e meio. Esse
evento acentuou as suas relações com seus pais e lhe deu alguns problemas
insolúveis em que pensar; mais tarde, enquanto observava a maneira pela qual o
bebê era cuidado, os traços de memória das suas próprias experiências mais
remotas de prazer foram reavivados nele. Essa influência é também uma
influência típica; em um número inesperadamente grande de históricos de vida,
tanto normais quanto patológicos, vemo-nos obrigados a tomar como nosso ponto
de partida uma explosão de prazer sexual e de curiosidade sexual ligada, como
esta, ao nascimento da criança seguinte”. No sistema desse tipo de análise,
Freud toma a iniciativa de acompanhar o curso da família de Hans.
A FAMÍLIA NO DIVÃ
Quando os pais
procuram um psicanalista para um filho o problema do filho pode revelar algum
tipo de sintomatologia que ocorre na estrutura inconsciente daquela família. A
criança e o adolescente chegam ao setting trazidos pelos pais, ou por quem os
substituem. Eles são o problema para a família, mas o psicanalista os vê apenas
como o sintoma.
Com o uso das
metáforas mitológicas, Freud demonstra que suas teorias vão além da
singularidade de cada paciente. As figuras mitológicas representam as grandes
questões humanas e o mito é a forma de expressão da relação do singular para o
geral da humanidade.
As bases da Psicanálise em Freud já carrega o gérmen da
psicoterapia vincular. Em nenhum momento da teoria freudiana o sujeito é
desgarrado de suas origens e de suas interações. Então, o complexo de Édipo
envolve pai, mão e filho ou substituto. Essa tríade é a base mais importante da
teoria psicanalítica e, no meu ver, uma base vincular. O mito de Édipo é
universal. Édipo é considerado o mito fundador de toda civilização. O Édipo
passa, primariamente, pelas relações familiares Totem e Tabu tem ligação com a
tríade do complexo de Édipo, filho, pai e mãe. A proibição de não matar o totem
(pai) e não ter relações sexuais com ele leva Freud à reflexão com o social. Na
horda é estabelecido o fio de continuidade do homem individual com a grande
coletividade humana. Em Moisés Freud, mais uma vez faz referência ao vínculo
social formador do ego e superego. “Não devemos, portanto, nos esquecer de incluir a influência da civilização entre
os determinantes da neurose. Os pormenores da relação entre o ego e o superego
tornam-se completamente inteligíveis quando são remontados à atitude da criança
para com os pais. Esta influência parental, naturalmente, inclui em sua
operação não somente a personalidade dos próprios pais, mas também a família,
as tradições raciais e nacionais por eles transmitidas, bem como as exigências
do milieu social imediato que representam. Da mesma maneira, o superego,
ao longo do desenvolvimento de um indivíduo, recebe contribuições de sucessores
e substitutos posteriores aos pais, tais como professores e modelos, na vida
pública, de ideais sociais admirados”.
A teoria psicanalítica de Freud carrega teorias que sempre
envolvem o outro. Até Narciso, envolve o outro para poder Narciso ser ele se
apaixona por si próprio, afasta a libido do mundo externo, não forma vínculos e
dirige sua libido para o próprio ego. Na conferência “O estado neurótico
comum”, (1917), Freud faz alusão à aplicação da técnica da psicanálise aos
estudos das religiões, da civilização e da mitologia, essa forma de abordagem
permite o vínculo entre a formação do indivíduo e o contexto cultural no qual o
indivíduo está inserido.
Os mitos educam, subjetivam e operam como marcadores de lugares
sociais, institucionais e familiares. Freud usou os mitos com perspicácia para
embasar toda sua teoria da psicanálise. Numa vamos esgotar a riqueza de Freud,
quando os pesquisadores apontam a não razão de Freud pesquisas mais sérias
ressurgem suas razões.
CONCLUSÃO
A reação da personalidade total diante da situação-problema
esclarece-se à luz da história total de vida do sujeito, o que somos resulta de
uma vida anterior. Numa perspectiva evolutiva o passado esclarece o presente. O
aparelho psíquico individual se constrói pela interiorização da matriz grupal
na qual a criança pequena está imersa. Voltando a Freud se reencontra as bases
para uma teoria vincular. O que ocorre é que muitos pegam carona nos
ensinamentos de Freud desvirtuando-os para serem vistos como “descobridores de
novas teorias”. A psicanálise das configurações vinculares já estava lá. O fato
de Freud não ter trabalhado com grupos não quer dizer que não deixou a base
para este trabalho. Nesta abordagem procurei demonstrar que Freud vinculou suas
descobertas ao individual, familiar, grupal e ao social. A primeira rede
vincular é a família, a terapia de grupos pode partir desse conceito. No grupo
são muitas reações, muitos olhares, muitas defesas, mas também são muitas
revelações já que a humanidade tem formação comum. Para isso serve as matrizes
de referências freudianas baseadas na mitologia e na gênese de formação comum a
todos nós.
BIBLIOGRAFIA
FREUD,
S. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas).
ANZIEU,
Didier. Psicanalisar. Aparecida, S. P: Editora Ideias & Letras. 2006.
MATEUS,
Tamires G. Considerações Acerca das Indicações de Atendimento em Psicanálise
Vincular (Disponível em www.contemporaneo.org.br/contemporanea.php)
Acessado em 04/07/2014.
FERREIRA,
Fernando & PINHO, Patrícia. Psicanálise e Teoria da Vinculação. (Disponível
em www.psicologia.com.pt
documento produzido em 16-0102010. Acessado em 03/07/2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário