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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A PULSÃO SEXUAL

A pulsão sexual
A “pulsão sexual” precisa ser saciada tanto quanto a fome. É um pouco estranho porque o desejo sexual não que não chega a relação sexual não afeta o organismo e nem mata, mas a fome mata, isso do ponto de vista fisiológico, mas do ponto de vista psicológico, segundo Freud, o desejo reprimido é causa de neuroses. Comparado à fome do desejo sexual pode ser colocado em segundo plano quando a intensidade da fome for um caso de vida ou de morte. Provavelmente entre a saciedade da fome e do desejo sexual, um faminto ao extremo, suponho, escolheria saciar sua fome. Alimentar-se seria uma questão de vida ou de morte para ele.
O sexo é inerente ao ser humano e é porte da sua vida, ou melhor, é sua vida desde o ventre materno até a hora da morte do indivíduo. As satisfações sexuais têm variantes diversas e é sobre elas que Freud faz as reflexões nesses artigos. Vejamos algumas dessas variantes.
Bissexualidade
As necessidades sexuais podem serem “saciadas” tanto entre pessoas do mesmo sexo como de sexo oposto, já que o ser humano, segundo Freud, é bissexual.
Perversões
As perversões dão-se quando o alvo sexual é distorcido e acontecem as parafilias, que  são padrões de comportamentos sexuais nos quais as fontes de prazer não é o ato sexual em si mas outras atividades sexuais, às vezes estranhas aos caminhos normais que levam à cópula.
Homossexualidade
Freud trata a homossexualidade como uma prática anormal, uma fez que chama a prática heterossexual de “ato sexual normal”. “Alguns aceitam a inversão como algo natural, tal como os normais aceitam a orientação de sua libido e defendem sua igualdade de direitos com os normais”. Essa observação de Freud é interessante para a reflexão do debate entre os defensores dos direitos dos grupos gays. No entanto deve-se considerar Freud no seu tempo, com o estágio da ciência de então. Mesmo assim as observações dele com relação aos invertidos vão além do seu tempo. Para ele os invertidos não são degenerados, no sentido de degeneração de sua época. Ele enumera várias nuances de invertidos. Dentre suas observações estão: 1) Encontra-se a inversão em pessoas que não apresentam desvio da norma, portanto normais. 2) Pode ser encontrada a inversão em pessoas eficientes e que inclusive se destacam por um desenvolvimento intelectual e uma cultura ética particularmente elevados. Por fim ele observa que a inversão é “extremamente difundida em muitos povos selvagens e primitivos, aos passo que o conceito de degeneração costuma restringir-se à civilização elevada...” Freud explica os vários tipos de inversão considerados por ele como caráter inato, e dá duas explicações para a inversão; a homossexualidade prematura e as influências externas. Por fim ele diz que seria assombrosa quando fosse uma característica inata e que se pensasse em trata-la através da hipnose.
Bissexualidade
Freud traspõe as questões biológicas para o campo psíquico. O hermafroditismo biológico pode ser analogamente, tratado como hermafroditismo psíquico. Apesar de ser uma boa ideia, Freud diz que “não é possível imaginar relações tão estreitas entre o suposto hibridismo psíquico e o hibridismo anatômico comprovável”. A doutrina da bissexualidade foi exprimida por um porta-voz dos invertidos masculinos. A substituição do problema psicológico pelo anatômico é inútil, segundo Freud. Ele faz essa referência em relação à ideia de “um cérebro feminino num corpo masculino”.
A bissexualidade dota o indivíduo tanto de centros cerebrais masculinos como femininos, mas Freud dez que esses “centros” masculinos e femininos “nem sequer sabemos se cabe presumir, para as funções sexuais, áreas cerebrais delimitadas como as que supomos para a fala”.  Freud só podia explicar a bissexualidade e a homossexualidade a partir dos conhecimentos do seu tempo como já ficou referido nesse trabalho. Cabe-nos aprofundar as sugestões dele utilizando-nos dos conhecimentos do nosso tempo.
Desvios e perversões
Pedofilia
Freud vê os pedófilos como indivíduos covardes e trata a pedofilia como aberração sexual.
Uso sexual da mucosa dos lábios e da boca
O uso da boca com órgão sexual é considerado como perversão quando a parte oral entra em contato com as genitálias.
Relação sexual anal
O interesse sexual por outra partes do corpo, segundo Freud, proclama a intenção do apoderamento do objeto sexual em todos os sentidos. Certas partes do corpo como as mucosas anais e bucais aparecem frequentemente nas relações sexuais.
Fetichismo
A substituição do objeto normal por outro que guarda relação com ele, mas que é impróprio para servir de alvo sexual normal. O fetichismo só é patológico quando é vivenciado de forma exagerada.
Relações sociais e desvios sexuais
A anormalidade manifesta nas outras relações da vida, que não as sexuais, costumam mostrar invariavelmente um fundo de conduta sexual anormal. Talvez justamente nas perversões mais abjetas é que devamos reconhecer as mais abundante participação psíquica na transformação da pulsão sexual. A pulsão de crueldade em suas formas ativa e passiva é indispensável à compreensão da natureza sofrida dos sintomas e domina quase invariavelmente uma parte da conduta social do doente. A partir dessas considerações de Freud entende-se que as perversões pesadas em desvios sexuais como sadismo, masoquismo, necrofilismo etc. derivam de desvios sexuais.
Sexualidade infantil
Os neuróticos preservam o estado infantil de sua sexualidade. Freud estuda a sexualidade adulta através do estudo da evolução da pulsão sexual desde a infância. Ele faz referências a várias manifestações de prazer que a criança revela desde a fase a amamentação e toma como exemplo dessas manifestações o chuchar já que o mesmo não estaria ligado apenas ao ato da alimentação em si. Nesse sentido o chuchar é uma prática auto erótica que satisfaz o próprio indivíduo que a pratica. Talvez não haja ligação desse ato com nenhuma satisfação sexual, mas ele pode está na base de todas as satisfações. Essa prática é classificada como o primeiro prazer da criança e se manifesta já no útero materno; é o prazer oral. Após o nascimento temos o prazer anal e Freud faz relação desse prazer com alguns sintomas revelados em comportamentos relacionados ao intestino.
Na sexualidade infantil a zona genital não desempenha o papel principal nem pode ser portadora das moções sexuais. A sexualidade infantil é o germe que segue uma trajetória e desabrocha na vida adulta, conforme seu desenvolvimento seu desabrochar pleno poderá ser normal ou partir para as perversões leves e até graves. O desfecho do desenvolvimento constitui a chamada vida sexual normal do adulto.
Conclusão
A nossa sexualidade nasce conosco e não vem misteriosamente em nossa vida num momento posterior. É ela que dá o colorido às nossas relações sociais primeiro com nossos pais. Se nossa infância não foi bem conduzida no aspecto sexual vivemos neuróticos na vida adulta. O desenvolvimento sexual infantil carregado de tabus e vivências negadas deixa marca no inconsciente gerando angústias a atitudes conscientemente não explicáveis numa vida adulta madura. A fonte das perversões sexuais está na vivência infantil, daí a importância de uma educação sexual praticada nas escolas e difundida por toda a sociedade ser necessária para a formação de um mundo mais humano no sentido pleno de humanidade madura. A conduta sexual está lado a lado, emparelhada com a conduta não-sexual. O indivíduo é único e sexuado e como tal se insere na sociedade, muitas vezes com todas suas neuroses provenientes de má formação da sexualidade. Freud nos deu uma grande contribuição com o estudo da sexualidade infantil.

BIBLIOGRAFIA
OVERSTREET, Harry Allen. A Maturidade Mental. São Paulo. Companhia Editora         Nacional, 1978.

FREUD, Sigmund. Um caso de Histeria. Três ensaios sobre a teoria da Sexualidade e outros trabalhos – Apostilha.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O MEDO DA MORTE



Dra. Maria do Socorro Almeida

    Ter medo da morte é também uma forma de mecanismo de defesa contra sua mais clara impossibilidade de não morrer. O medo é um sentimento muito forte que constrói outros sentimentos, castradores e punitivos que vão transformando algumas emoções de cismas, receios e pequenos medos em verdadeiros sentimentos de pavor. Apesar de sabermos que a morte é um fato intransferível e impossível de não acontecer, precisa-se entender que ela é uma coisa normal, assim, o medo da morte tem que ser moderado, posto que este medo em excesso vira um caso patológico e, com isso, passa a prejudicar a vida do sujeito, podendo transformar este sentimento numa permanente falta de tranqüilidade. Muitas pessoas têm imenso medo do momento da morte. Ficam, até, idealizando uma morte sem sofrimentos, no entanto, sofrem antecipadamente com esse pensamento, deixando de ter uma vida calma e serena, com harmonia e fé. Esse medo torna-se pavor ao ponto de muitos não suportarem a idéia da velhice, o esquecimento, a falta da beleza estética, por isso recorrem a dolorosos tratamentos de rejuvenescimento, na tentativa de sentirem-se amados e buscam desesperadamente esse tipo de tratamento pensado numa imortalidade. Por mais que se compreenda que o medo é um processo natural, o homem ainda não aprendeu a conviver com esse sentimento castrador, que vai cumulando consequências psicológicas, as quais vão comprometendo a saúde física e mental do ser, tornando-o um refém de si próprio, vivendo atormentado, atemorizado por seus fantasmas, abdicando de um viver saudavelmente tranquilo. A compreensão da morte é entender o sentido da vida. Não existe uma nova vida sem a morte de uma vida anterior. São as transformações essenciais que vão acompanhando o ciclo natural , que vão redimensionando novos ciclos que se repetem através das emoções, das descobertas e da transcendência. 
     A vida tem várias etapas e passagens de fases. Começa na fecundação onde inúmeros óvulos e espermas morrem para apenas ser fecundado um, virar embrião, sobreviver e vingar; nascer. Esse processo continua com a sequência do novo ciclo que é a formação do embrião, o qual dará lugar ao feto, que por sua vez resultará na formação  do bebê. É a consequência natural da morte de uma fase para o nascimento de uma outra. 
    Portanto, quem não morre? O que não morre? Morrer é tão necessário quanto viver! Como disse São Francisco de Assis: “É morrendo que se vive.”


domingo, 24 de março de 2013

ANÁLISE É PRIVILÉGIO, SIM


Análise pessoal é privilégio sim, nem todas as pessoas compreendem o benefício e o ganho pessoal e emocional que a análise poder proporcionar. Fazer análise é um privilégio que não tem preço. Todo ser humano deveria entrar em contato consigo mesmo, para conhecer a origem de seus sentimentos e emoções que, muitas vezes, são a causa da maioria de seus conflitos psicológicos e de relacionamento, seja familiar ou social.

Além disso, o ganho emocional, em maturidade, compreensão e afeto, é muito significativo, em longo prazo. Porque, através de si mesma, a pessoa aprende a conhecer e respeitar o outro como ele realmente é, sem esperar a perfeição. Isto acresce amor, carinho e felicidade nos seus relacionamentos, enriquecendo a vida, como um todo.

quinta-feira, 14 de março de 2013

FREUD: UMA VIDA, UMA OBRA, UM MÉTODO DE TRABALHO

            Introdução
Neste artigo aborda-se um pouco do contexto sócio cultural da infância, juventude e vida adulta acadêmica de Freud. Essa sequência estará permeada com a germinação, consolidação e crescimento da psicanálise. Tendo como ponto conclusivo a contribuição de Freud e de sua literatura para a consolidação da psicanálise até nossos dias. Num ensaio publicado em 1925, “Um estudo autobiográfico”, Freud nos aponta para a necessidade de que sua obra não seja dissociada de sua vida e nem do acolhimento que a mesma recebeu e alerta que só assim se compreende sua descoberta da psicanálise, ao mesmo tempo, como prática terapêutica e como teoria metapsicológica. O que importa para Freud é compreender o homem. Na sua autobiografia Freud “mostra como a psicanálise torna-se o conteúdo de minha vida e se conforma, seguidamente, ao princípio justificado que nada do que me ocorre pessoalmente merece interesse ou vigilância, em comparação com minhas relações com a ciência”. Assim a existência, o projeto científico e a relação com o mundo é o elemento que conduz Freud à descoberta da psicanálise.

Uma vida
Nascido em Freiburg, em 6 de maio de 1856, na Morávia (atual República Tcheca, mas que na época fazia parte do Império Austro-Húngaro), Freud diz ter de sua origem judaica três qualidades que o auxiliaram muito nessa luta: veneração pelo conhecimento em geral, sobretudo pelas ciências; espírito crítico bastante livre e grande resistência à hostilidade. Freud foi o primeiro filho do terceiro casamento de seu pai, Jacob Freud, do qual nasceram sete outros irmãos, apenas Freud e o caçula, dez anos mais novo, eram homens. Em 1860 a família de Freud se muda para Viena, antiga capital do império Habsburgo. Os heróis da infância escolhidos por Freud foram o antimonarquista Oliver Cromwell e o general cartaginês Aníbal. Esses heróis revelam sua antipatia com relação à Viena imperial.
Freud encontrou uma sociedade que debatia a teoria de Charles Darwin, pois o livro “A Origem das Espécies” foi lançado em 1859, quando Freud contava com três anos de idade. Certamente na sua juventude Freud também entrou nesse debate, já que adentrou pelo mundo acadêmico. Freud foi uma criança mimada por sua babá e muito paparicada por sua mãe. Ele mesmo escreve “Um homem que foi o favorito indiscutível de sua mãe mantém ao longo da vida o sentimento de um conquistador, aquela confiança no sucesso que muitas vezes induz o sucesso real”. Em 1873, Freud inicia os estudos de medicina na Universidade de Viena e se forma em 1881. Um dos professores de Freud, Ernst Brücke foi um dos criadores do mecanicismo que propunha que a vida fosse investigada e entendida por maio da química e da física. Em 1882 lá estava Freud realizando trabalhos no laboratório de Brücke de quem recebeu um conselho: - Os cargos acadêmicos são poucos e mal pagos, suas chances de promoção como judeu são ruins. Freud encara um período de formação de clinica entre 1882-1885. Mas Freud não nasceu para clinicar. Seu objetivo era a investigação da mente humana, seu consultório atendia o menor número possível de pacientes enquanto Freud se dedicava às suas pesquisas.

Uma obra
A obra de Sigmund Freud é composta por 23 volumes e várias cartas escritas a seus amigos. Os escritos de Freud têm importância em si mesmo e essa importância se propaga através das produções literárias fundamentadas nessas obras. O ocidente construiu seu pensamento a partir dos filósofos gregos, porém uma grande contribuição para a construção do pensamento ocidental foi dada por Freud. A partir dele o ocidente muda a forma de diagnosticar e tratar distúrbios de comportamento e de educar; Suas teorias também contribuem para uma mudança nos tratamentos médicos relacionados a saúde mental. As relações humanas também são afetadas pelos ensinamentos de Freud. A atenção na compreensão do outro em todas as atividades como educação, saúde, segurança, comércio, exploração de minas, bombeiros e militares, enfim, todas as atividades, para as quais se necessitem de treinamentos, passa pelas teorias freudianas, mesmo que estas já estejam tão diluídas ou incorporadas ao pensamento humano que aqueles que a usam não tenham consciência desse fato. Para Freud a psicanálise não se reduz a uma metodologia terapêutica, mas se incorpora em toda a existência humana, tendo a vida da criança como um momento primeiro e fundador.
A Psicanálise nasceu com Freud e sua solidificação acontece com a publicação de “A Interpretação dos Sonhos” 1900. Essa publicação é resultado de uma prática, observação e teorias já experimentadas por Freud. A obra apenas divulga a prática. Se Freud não escrevesse sobre suas descobertas o trabalho dele teria ficado perdido com sua morte.
A Psicanálise teve infância, cresceu e está se consolidando como uma prática disseminada, sobretudo no ocidente. O objetivo inicial era de compreender algo sobre as doenças nervosas funcionais, mas acabou contribuindo para diversos setores da saúde e formação humana. Freud diz que pessoalmente não contribuiu em nada para a pedagogia, deixando para Melaine Klein e Anna Freud, sua filha, o cuidado de uma aplicação do modelo metapsicológico ao campo da educação. Contudo a infância está presente em toda a obra freudiana. A infância aparece como um período determinante para a formação do ser humano. A influência de Freud é decisiva para a reflexão educativa a partir do início do século XX. Mesmo que Freud não tenha deixado nenhum tratado específico sobre a questão educativa, as referências à educação permeiam todas suas obras, desde três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905) até mal-estar na civilização. (1930)
Freud compreendeu além dos fatos químico-físicos e patológico-anatômicos de sua época e foi além das crenças filosóficas e místicas tornando o conhecimento da mente humana numa ciência. Para Freud a falta de compreensão afetava o tratamento dos estados patológicos da mente. Havia práticas bizarras no meio médico como o tratamento através do emprego de influências mentais com de ameaças, zombarias, advertências e exortação para que os pacientes se contivessem dos seus excessos. Num meio assim imagina-se o quanto Freud, com sua visão do ser humano, se constrangia com certos métodos usados por seus colegas de profissão.
Quando Breuer deixou de se dedicar ao tratamento de pacientes nervosos Freud dedicou-se a aperfeiçoar o método do seu antigo colaborador. As novidades técnicas e as descobertas posteriores à parceria com Breuer transformaram o método cartático em psicanálise. Freud não estava satisfeito com os resultados terapêuticos da cartase baseados na hipnose e abandonou a hipnose colocando como método de pesquisa da mente a “associação livre” como meio de investigar o material inconsciente esquecido que emergiriam através das palavras por mais desconexas que fossem. É lógico que as palavras só traziam à tona alusões ao material esquecido.
A catarse também está presente na psicanálise, criada pelo austríaco Sigmund Freud. Se, por um lado, a poesia dramática se inspira em moldes religiosos ancestrais, o modelo seguido por Freud é o da simbolização poética. Freud descreve como estados catárticos o que seu mestre, Breuer, induzia nos pacientes através da hipnose, um meio de contornar as censuras estabelecidas e propiciar aos enfermos da mente a possibilidade de reviver seus traumas e, assim, superá-los.
Um Método de Trabalho
A Psicopatologia da vida cotidiana (1901). Faz uma abordagem das parapraxias anotando que os acontecimentos ligados à parapraxia têm um significado consciente com o qual interfere outro, suprimido ou realmente inconsciente.
            A análise dos sonhos aprofunda essa reflexão. Em “A Interpretação dos Sonhos, 1900, Freud demonstra ser os sonhos construídos da mesma forma que os sintomas neuróticos, como a parapraxia, os sonhos podem parecer estranhos e sem sentido; porém ao serem examinados através de uma técnica similar à livre associação, demonstram sua riqueza de significados. O sonho se submete a uma deformação devido a censura e por isso as partes censuradas não aparecem na história do sonho. O “trabalho do sonho” nos ensina muito sobre a vida mental inconsciente. A livre associação é tratada no ensaio Psicopatologia da vida cotidiana, por exemplo, quando Freud esquece o nome Signorelli. Para empreender a análise usou como exemplo um ato de esquecimento do nome do pintor Luca Signorelli que ocorreu consigo numa viagem de coche entre Ragusa e a uma cidade vizinha na Herzegovina. Durante a viagem, conversando sobre fotografias com um advogado de Berlim que o acompanhava, Freud recomendou ao interlocutor que visitasse a bela Catedral de Orvieto para contemplar os afrescos do ciclo do fim do mundo e do juízo final pintados por…. “O nome do pintor me escapava e não houve jeito de lembrá-lo. Forcei a memória, passei em revista a todos os detalhes dos dias em Orvieto e pude constatar que nenhum deles se atenuava ou se apagara. “Conseguia, aliás, representar as imagens de forma mais viva do que normalmente consigo.” As imagens mais vivas que impregnavam o esquecimento do nome do pintor estavam associadas à visão da cena “A ressurreição da carne” pintada por Signorelli para compor o tema do Juízo Final na capela de San Brizio. A catedral de Orvieto, na região da Úmbria / Itália, é uma construção em estilo gótico iniciada em 1347 sob a responsabilidade do arquiteto Andrea Pisano, que faleceu dois anos depois, transferindo a responsabilidade para o seu filho Nino Pisano (pintor e escultor da fase gótica italiana). Toda a fachada apresenta um fundo de mosaicos dourados. Seu interior, com três naves e uma planta cruciforme, é decorado com mármores brancos e pretos com impactante efeito plástico. Este cenário abriga uma coleção dos clássicos mestres do renascimento italiano, dentre eles, Fra Angelico e Luca Signorelli. A catedral sobreviveu às trágicas guerras permanecendo intocável através dos tempos. As cenas narrando os temas do Apocalipse e do Juízo Final compõem o ciclo de afrescos, com tamanho de aproximadamente 6 metros cada um, intitulados: “A História do Anticristo”, “O Fim do mundo”, “A ressurreição da carne” , “Os Condenados”, “Os Eleitos”, “O Paradiso” e “O Inferno”. Signorelli edificou sua obra sob o signo da força e do movimento revelando-se um dos mais brilhantes anatomistas de sua época. Pintou a figura humana como entidade arquitetônica expressando uma dramaticidade sem igual. Michelangelo inspirou-se nestas cenas retratadas por Signorelli para compor sua versão do Juízo Final no altar mor da capela Sistina. “A ressurreição da carne” é o significante que inscreve o conflito psíquico vivido por Freud quando de sua visita a Orvieto. Antes de partir, escreveu para seu amigo Fliess: “Hoje, ao meio dia, partirei com Martha para o Adriático; se vamos ficar em Ragusa, Grado, ou algum outro lugar, será decidido no caminho”. Citou um provérbio para dizer de sua situação: “A maneira de enriquecer é vender a última camisa”. Estava abatido por não encontrar um substrato anatômico para sua escuta clínica dos sintomas histéricos: “O segredo dessa inquietação é a histeria. Na inatividade daqui e na ausência de qualquer novidade fascinante, todo esse negócio (a teoria da sedução) passou a me oprimir pesadamente a alma. Agora, meu trabalho me parece ter muito menos valor e minha desorientação parece completa”. Citando outro provérbio "quem procura acha, frequentemente, muito mais do que deseja" constatou: “A consciência é apenas um órgão sensorial; todo conteúdo psíquico é apenas representação; todos os processos psíquicos são inconscientes”.
A retornar da viagem à Itália, escreveu a Fliess dizendo: “voltei há apenas três dias e todo mau humor de estar em Viena já se abateu sobre mim. É um perfeito martírio viver aqui, isso não é clima em que possa sobreviver a esperança de se concluir coisa alguma”. Rebateu os argumentos de Fliess afirmando não ter a intenção de deixar “a psicologia suspensa no ar, sem uma base orgânica”. No entanto, não encontrava um modo de ajustar a escuta clínica com os pressupostos da neurofisiologia: “não sei como prosseguir, de modo que preciso comportar-me como se apenas o psicológico estivesse em exame. Por que não consigo encaixá-los (o orgânico e o psíquico) é algo que nem sequer comecei a imaginar”. Essa carta de 22/09/1898 é a mesma em que aparece o segundo exemplo de análise do esquecimento de nome próprio e envolvia a viagem a Orvieto e a cena da “ressurreição da carne” de Signorelli. Esta análise foi publicada no mesmo ano como num pequeno ensaio, “O mecanismo psíquico do esquecimento”. Na carta registrou que o esquecimento do nome Signorelli estava ligado ao contexto da conversa com o companheiro de viagem: “Na conversa, que despertou lembranças que obviamente causaram o recalcamento, falamos sobre a morte e a sexualidade”. Os temas da conversa foram atravessados pela imagem dos corpos esculpidos/pintados por Signorelli. “Como posso tornar isso crível aos olhos de outrem?”, perguntou Freud diante de seu embaraço em encaixar o somático e o psíquico e justificar assim o recalcamento: o fato de não haver representação psíquica para a morte e a sexualidade.
Conforme o próprio Freud descreve em “as associações do paciente retrocediam, a partir da cena que tentávamos elucidar, até as experiências mais antigas e compeliam a análise, que tencionava corrigir o presente ao ocupar-se do passado. Esta regressão nos foi conduzindo cada vez mais para trás, até os anos da infância que até então permaneciam inacessíveis a qualquer espécie de exploração. Essa direção regressiva tornou-se uma característica importante da análise”. A contribuição da regressão para o tratamento das neuroses é um fato muito importante a partir de Freud. Atualmente a regressão é usada em diferentes profissões que tratam a mente humana e até serve para ratificar teorias sobre vidas passadas. A regressão é um instrumento valioso de pesquisa de comportamento, tornada, por Freud, num instrumento de pesquisa em favor da psicanálise.
Em sua obra mais conhecida, A Interpretação dos Sonhos, Freud explica o argumento para postular o novo modelo do inconsciente e desenvolve um método para conseguir o acesso ao mesmo, tomando elementos de suas experiências prévias com as técnicas de hipnose.
Como parte de sua teoria, Freud postula também a existência de um pré-consciente, que descreve como a camada entre o consciente e o inconsciente (o termo subconsciente é utilizado popularmente, mas não é parte da terminologia psicanalítica). A repressão em si tem grande importância no conhecimento do inconsciente. De acordo com Freud, as pessoas experimentam repetidamente pensamentos e sentimentos que são tão dolorosos que não podem suportá-los. Tais pensamentos e sentimentos (assim como as recordações associadas a eles) não podem ser expulsos da mente, mas, em troca, são expulsos do consciente para formar parte do inconsciente.
Embora ao longo de sua carreira Freud tenha tentado encontrar padrões de repressão entre seus pacientes que derivassem em um modelo geral para a mente, ele observou que pacientes diferentes reprimiam fatos diferentes. Observou ainda que o processo da repressão é em si mesmo um ato não consciente (isto é, não ocorreria através da intenção dos pensamentos ou sentimentos conscientes). Em outras palavras, o inconsciente era tanto causa como efeito da repressão.

Contribuições de Freud para as ciências
Uma importante contribuição freudiana para a humanidade é o cuidado com a criança já que o homem é formado na infância.
Freud inovou em dois campos. Simultaneamente, desenvolveu uma teoria da mente e da conduta humana, e uma técnica terapêutica para ajudar pessoas afetadas psiquicamente. Alguns de seus seguidores afirmam estar influenciados por um, mas não pelo outro campo.
Provavelmente a contribuição mais significativa que Freud fez ao pensamento moderno é a de tentar dar ao conceito de inconsciente um status científico (não compartilhado por várias áreas da ciência e da psicologia). Seus conceitos de inconsciente, desejos inconscientes e repressão foram revolucionários; propõem uma mente dividida em camadas ou níveis, dominada em certa medida por vontades primitivas que estão escondidas sob a consciência e que se manifestam nos lapsos e nos sonhos. Ele mesmo descreve algumas contribuições para a posteridade, as que ele tem consciência, como: /teoria da Repressão e da Resistência, o reconhecimento da sexualidade infantil e a interpretação psicanalítica e exploração de sonhos como fonte de conhecimento do inconsciente, a livre associação, complexo de Édipo. Porém ele mesmo descobre que a teoria da repressão não é tão original assim, pois o filósofo Schopenhauer, 1788-1860, já havia feito um esboço da mesma. Mas para o mundo da psicanálise ela é original. A teoria da repressão, segundo Freud, “é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise”. Freud por sua perseverança nas investigações da mente nos proporcionou a oportunidade de desfrutar de suas descobertas. Freud perdeu amigos, reputação médica, sacrificou sua vida econômica ao optar pela pesquisa em fez do consultório, quando reduziu ao máximo seus pacientes. Esse amor, dedicação e paixão pela mente humana fez de Freud um grande contribuidor para a história humana. Em questões de mente podemos dividir o ocidente antes e depois de Freud.
Apesar da hostilidade do mundo científico da primeira década do século xx, a psicanálise se expandiu na segunda década e passou a contribuir com diferentes áreas do conhecimento. A rejeição à psicanálise pela comunidade médica não a impediu de se desenvolver inicialmente no tratamento de neuroses. Seu sucesso terapêutico incentivou os pesquisadores a continuar no caminho. No decorrer de seu desenvolvimento, a técnica da psicanálise se tornou tão definida quanto a de qualquer outro ramo especializado da medicina. A psicanálise é uma ciência jovem e ainda está em fase de pesquisa e formação, mas em rápido desenvolvimento. Mesmo qualquer ramo da ciência está continuamente em crescimento e em simbiose, podemos dizer assim. Já que uma necessita da outra para se afirmar e produzir resultados.
                                                                                                  
REFERÊNCIAS
JOLIBERT, Bernard. Sigmund Freud, Tradução e organização de Elaine Terezinha Dal Mas    Dias. Recife: Editora Massangana, 2010.
FREUD, S. O esquecimento de nomes próprios em " A psicopatologia da vida cotidiana". ESB. Rio de Janeiro: Imago, v.VI, cap.I, 1976.
          Revista Coleção Guias da Psicanálise – Vol.3 – Freud. Para além da psicanálise.
Correspondência Completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess (1887-1904). Editada por Jeffrey Moussaieff Masson. Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1986.

CRÉDITOS



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sexta-feira, 8 de março de 2013

MASSA E PODER

Não há nada que o homem tema mais que o contato com o desconhecido. Quer ver o que vai tocá-lo, quer poder reconhecê-lo ou, em todo caso, classificá-lo. Sempre o homem se esquiva do contato insólito. A noite, e na obscuridade em geral, o assombro de um contato inesperado pode se intensificar em pânico.
Mesmo as roupas não são suficientes para garantir a segurança; elas são tão fáceis de serem rasgadas, é tão fácil penetrar até a carne nua, lisa e sem defesa da vítima.
Todas as defesas que os homens criaram ao seu redor são ditadas por essa fobia do contato. Ele se tranca em fortalezas onde ninguém pode entrar, e somente nelas se sente um pouco seguro. O medo que sente do ladrão não provém apenas das rapaces intenções deste, é também o medo de seu aparecimento súbito e inesperado no escuro. A mão deformada em garra é sempre o símbolo utilizado dessa angústia. "Agredir" é, antes de mais nada, "atacar", o contato inofensivo se interpreta aqui como ataque perigoso, e é este último sentido que acaba prevalecendo. Uma "agressão" é um contato pejorativo.
A massa invisível povoa o espírito dos crentes: mortos e santos formam uma multidão, substrato das religiões. O tipo, também importante, de massa invisível, é o da descendência. Esta, na sua infinidade, não é visível para ninguém. Um homem pode conhecer, no máximo, duas ou três gerações. Depois, vem o grande exército dos mortos.
           Para o homem moderno, entretanto, este exército não possui grande significado, sendo por isto substituído por outro: o exército dos que ainda não nasceram. É este, em realidade, que se encontra presente em toda discussão a respeito do futuro do planeta, um sentimento profundo em defesa dos não-nascidos, que não devem sofrer as consequências da belicosidade dos vivos.
CANETTI, Elias. Massa e Poder, Editora Universidade de Brasília/Melhoramentos.


quarta-feira, 6 de março de 2013

O LIVRO NEGRO DA PSICANÁLISE



O livro questiona as descobertas de Freud. É mais um motivo para o desenvolvimento da Psicanálise  pois ao ser questionada desperta uma atitude de pesquisa nas pessoas que têm interesse em atender pessoas através da psicanálise. O próprio livro já é uma fonte de pesquisa devido às suas fundamentações.
O livro foi lançado na França com o título “Le Livre Noir de La Psychanalyse: Organizado por Catherine Meyer. No Brasil foi lançado pela editora Civilização Brasileira. Traduzido pela psicanalista Simone Perelson.
Este livro despertará um grande debate entre os profissionais da área, por trazer um tema polêmico. Reúne artigos, entrevistas e depoimentos de 23 autores que questionam a eficácia da análise, a duração dos tratamentos sugeridos pelos psicanalistas e os conceitos de Freud. Conta com 644 páginas.

terça-feira, 5 de março de 2013

NEURO-IMAGEM E PSICANÁLISE

Estou abrindo este blog com este texto da revista Mente e Cérebro. O objetivo deste blog é divulgar a discussão em torno do tratamento psicanalítico e da formação do psicanalista. Não
entendo direito essa formação não acadêmica, mas como a psicanálise é uma profissão aprovada pela classificação brasileira de profissões... Resolvi me interessar pelo assunto e estou fazendo o curso através de uma sociedade chamada ABEPE. Espero que este blog seja visitado por muitas pessoas ilustres do meio psicanalítico e por todos os interessados e intelectuais do Brasil e da Terra. Para isso coloquei o tradutor.

Cura pela Palavra - Revista Mente e Cérebro

Neuroimagens mostram que a psicoterapia pode reorganizar circuitos neurais
Uma das principais críticas às ideias de Sigmund Freud sobre o funcionamento da mente é a suposta ausência de comprovação científica, apesar dos resultados práticos no tratamento do sofrimento psíquico e seus sintomas. No entanto, os avanços na técnica de neuro-imagem têm possibilitado o estudo dos efeitos cerebrais do método da “cura pela palavra”.
Duas pesquisas, da Universidade de Amsterdã e da Universidade de São Paulo (USP), mostram que a psicanálise e a psicoterapia causam alterações em áreas neurais relacionadas à tomada de decisões e ao controle das emoções. Pesquisadores holandeses registraram durante quarto meses a atividade cerebral de 35 voluntários diagnosticados com transtorno de estresse póstraumático (TEPT). Parte deles frequentou sessões de psicanálise e o restante não passou por nenhum tipo de psicoterapia. As imagens revelaram que o grupo que fez o tratamento apresentou maior atividade no córtex pré-frontal. Além disso, os pacientes mostraram- se menos aflitos ao falar sobre suas recordações e relataram menor frequência de pesadelos e pensamentos recorrentes.
O outro estudo, do Instituto de Psicologia da USP, avaliou os resultados da terapia cognitiva (TCC) e obteve dados parecidos. O psicólogo Julio Peres acompanhou por dois meses o tratamento de 16 voluntários com TEPT submetidos a sessões semanais de psicoterapia de exposição e reestruturação cognitiva, que consiste em confrontar o paciente com sua experiência traumática e estimulá-lo a reavaliar o próprio medo.
As neuroimagens registradas ao longo do experimento mostraram que a atividade da amígdala – região relacionada à vigilância, à percepção de ameaça e às emoções – diminuiu em comparação com o grupo de controle, formado por 11 pessoas. Esse experimento indica que o tratamento pode modificar circuitos neurais. Segundo Peres, as alterações concentram-se em áreas relacionadas a dores e dificuldades, o que evidencia o potencial terapêutico da psicoterapia.