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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Crimes " Irmãs Papin" e "Precisamos Falar sobre Kelvin"

Análise do crime das Irmãs Papin e Precisamos falar com Kevin
A sociopatia é uma psicopatologia presente na história humana que não tem cura, mas tem tratamento químico e psicológico.
No CID – 10 E DSM IV.
Folie à Deux, transtorno psicótico compartilhado para se referir à loucura a dois. Já em 1877 La segue e Falret se manifestara sobre a folie à deux. Eles falem de um contágio que ocorre na relação, a partir da aceitação do delírio do outro, em que o delirante convence o outro da verdade de seu delírio. Esses autores comentam que há uma pessoa doente e outra receptiva que seria alienada por reflexo. Lea se identifica com Christine, admirando-a e idealizando-a. Lea pede a Christine que lhe penteie os cabelos que lhe conte histórias. Em Lea há um misto de filiação, de amante, submissão e admiração em relação à Christine. O CID 10 faz referência ao Transtorno Delirante Induzido, partilhado por duas ou mais pessoas ligadas por fortes laços emocionais. Apenas um é doente e as ideias psicóticas são induzidas na outra ou nas outras. Há um isolamento social entre as irmãs. As mesmas parece bastarem-se a si mesmas. Há ciúmes de Christine em relação à Isabelle. Christine, ao que indica, é a doente, uma vez que ela faz referência a delírios persecutórios em relação à patroa e tem ideia de perseguição, quando diz que a patroa quer separar ela de Lea, pois quando essa se casasse levaria Lea, ideia que Christine não suportaria. Christine não parece à primeira vista ter disturbo de personalidade, uma vez que dá conta de seu trabalho com muita perfeição. Porém se analisarmos bem, ela apresenta uma perfeição exagerada, talvez esse comportamento esconda uma prevenção de não ser chamada à atenção pela patroa. Ela já teria conhecimento de suas possíveis reações. Já Lea é uma empregada normal, que erra e que é chamada a atenção. Christine toma um extremo cuidado para que Lea não erre. O comportamento de Christine dá a entrever que Lea faz parte dela mesma, é seu duplo. Que a dor de Lea é sua dor. Ela, Christine é uma com Lea. Christine parece ser a protagonista sociopata, reclama da mãe que a trocava de emprego, não a pegava no colo, por não gostar de seu choro, como se alguém possa gostar de choro, da irmã Verônica que a havia abandonado. Tudo isso reforça o medo de Christine de ser abandonada ou separada de Lea. A senhora Lancelin é tratada pelas irmãs, entre elas, como “mamãe”. Mas a senhora Lancelin se torna, para Christine, perseguidora como sua mãe Clémence. O olhar da senhora Lancelin incomoda Christine até que seus olhos sejam arrancados na noite do crime por Christine. Esse foi um ato simbólico que aqueles olhos não mais olhariam para elas, as duas; A razão de Christine é Lea. Lea como que para agradar Christine a imita arrancando os olhos de Isabelle. Os sexos das duas são expostos para, talvez, expressar a raiva que as duas assassinas tinham delas pelas insinuações que o incesto das duas já ter sido percebido pelas patroas.
Lacan analisou esse crime e até escreveu um resumo do mesmo. Esse padrão de crime é tratado por doutor Genecy Leal como folie à deux quando comenta os crimes dos canibais de Garanhuns no IV Congresso Interamericano “Violência, Culpa e Ato” realizado em Garanhuns. Jorge Beltrão tinha alucinações visuais e auditivas, conforme o livro “Revelações de um Esquizofrênico”, as suas companheiras acreditavam nele e compartilhavam as alucinações dele que remetia o grupo para o terreno do religioso. Ele é um sociopata, pois um esquizofrênico não premedita o crime.
Ambos os crimes foram cometidos por pessoas que eram muitíssimo próximas, em duplas, no caso dos canibais em trio, e com requinte de crueldade. Assim a história está carregada desse tipo de crime. Poderíamos citar o caso do goleiro Bruno. Um criminoso é o esteio, o outro pega coragem deste para praticar os atos de selvageria. Após a execução de uma vítima desses sociopata eles agem como se estivessem com o dever cumprido. O ato desfaz a construção delirante. As irmãs ficam apaziguadas, satisfeitas, se encontram consigo mesmas e como quem acaba de realizar uma atividade física prazerosa, onde descarregam todo o estresse, vão dormir em paz, ou melhor, se aconchegam nuas como para demonstrar que ambas são uma. Estavam nuas e abraçadas ao chegar à polícia.
A análise da personalidade psicótica das irmãs Papin, na literatura psicanalítica, parte do ponto em que as mesmas cometem o duplo assassinato. Psicanaliticamente seria interessante o estudo de sua infância que talvez fosse esclarecedor de alguns aspectos relativos ao ato criminoso. Talvez a patroa zangada tenha feito referência à mãe das irmãs Papin em algum momento de suas vidas, quando elas ainda não tinham força nem disposição para assassiná-la. O assassinato da senhora Lancelin e de sua filha pode ter sido um ato simbólico de vingança, onde as irmãs “assassinam” a mãe e a irmã mais velha, Verônica, em nome do abandono que ambas cometeram com elas. Também esse assassinato remete ao ciúme entre as “mães” de Lea: assenhora Lancelin e Christine, no caso.

FILME: “PRECISAMOS FALAR COM KEVIN”
Eva (Tilda Swinton) mora sozinha e teve sua casa e carro pintados de vermelho. Maltratada nas ruas, ela tenta recomeçar a vida com um novo emprego e vive temorosa, evitando as pessoas. O motivo desta situação vem de seu passado, da época em que era casada com Franklin (John C. Reilly), com quem teve dois filhos: Kevin (Jasper Newell/Ezra Miller) e Lucy (Ursula Parker). Seu relacionamento com o primogênito, Kevin, sempre foi complicado, desde quando ele era bebê. Com o tempo a situação foi se agravando mas, mesmo conhecendo o filho muito bem, Eva jamais imaginaria do que ele seria capaz de fazer.
O filme começa com Eva grávida, numa reunião de apoio para grávidas. Eva, futura mãe de Kevin parece não aceitar a gravidez e lentamente vai se afastando das outras grávidas até que consegue escapar. Na hora do parto ela resiste a expulsar o bebê e a parteira lhe chama a atenção para esse fato. Após o nascimento de Kevin, Eva não se acostuma com o fato de ser mãe e aparece segurando, estranhamente o bebê pelos braços que chora e é imitado pela mãe. Essa deveria ser a terceira fase do espelho de Lacan, é nela que Kevin se depara com a hostilidade da mãe que ele constrói em si mesmo, já que a mãe é o espelho. Há outra cena em que ela o leva para passear no carrinho e o aproxima de uma britadeira em funcionamento e se demora parada, expondo seu filho ao intenso barulho. As hostilidades entre mãe e filho continuam e quando Kevin já está com uns três anos aparece uma cena em que a mãe quer interagir com ele jogando uma bola para ele que não lhe devolve a bola como ela esperava. A relação da mãe com o filho é extremamente importante para a constituição da criança como sujeito e da sua relação com o mundo. Segundo Lacan, a criança não nasce sujeito, é simplesmente um ser regido por pulsões que precisam ser atendidas. Nessa fase Kelvin já se dissociou da mãe. Ele deveria está vivendo o Édipo, o que não acontece. Essa relação aparece no filme apenas uma vez em que Eva ler uma historinha para Kelvin que fica enciumado quando o pai aparece e o manda embora. É uma cena um pouco erotizada. Kelvin se comporta sempre desafiando a mãe. Kevin desafia a mãe em vários momentos do filme, como por exemplo, falando ao mesmo tempo em que ela, estragando as produções de arte do quarto da mãe e fazendo suas necessidades fisiológicas nas fraldas mesmo sendo já um menino crescido. Certa vez, ao fazer as necessidades nas fraldas por duas vezes consecutivas, Kevin irritou Eva, que não soube como lidar com a situação e jogou-o no chão, fato este que fez com que a criança fraturasse o braço. O nascimento da irmã é um aspecto importante para a constituição de Kevin. No momento em que o garoto conhece a irmã recém-nascida, joga água em seu rosto, percebendo que ela recebe a atenção da mãe, de forma contrária do que ocorre com ele.
O desfecho do filme é trágico e anunciado gradativamente na medida em que algumas cenas vão mostrando como a partir da estrutura de Kevin foi se delineando a denúncia fatal. Cenas onde materiais de limpeza são tornados acessíveis para a irmã e, em virtude disso, a menina acaba perdendo um olho. Ele desenvolveu uma hostilidade com a mãe que resultou no acerto de contas com a família e com colegas e professores da escola onde estudava.
No final do filme aparece ele dialogando com a mãe que lhe pede explicação do porquê ele ter agido daquele jeito na escola e com sua família e ele responde-lhe que pensava que sabia, mas agora reconhece que não sabe o porquê de ter agido assim. Isso demonstra a construção do sujeito feita pela rejeição de sua mãe. Quando a mãe o levou ao médico, este não diagnosticou problema algum em Kevin, mas faltou uma análise mais apurada tanto da mãe como do filho. No final do filme, o menino faz uma indagação inquietante para sua mãe ao ouvir dela a frase você não lhe parece feliz. O garoto, de forma irônica diz algum dia um já fui feliz?
O comportamento de Kevin pode ser classificado como identificação projetiva, quer dizer, o ódio derramado pela mãe fez com que a criança concretizasse os sentidos negativos da mãe no seu ato desesperado e criminoso de chamar a atenção da mãe. Um fato curioso que que ele não matou a mãe, mesmo tendo oportunidade de o fazê-lo. O ato de desespero é o de dizer: “olha aí, mãe, tua construção.
BIBLIOGRAFIA
WINNICOTT. D. W. Os bebês e suas mães. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
CRÉDITOS
NARCISISMO E VIOLÊNCIA
Acessado em 06 de outubro de 2014.
FILMES
Entre Elas:
Precisamos falar sobre Kelvin:

http://www.scielo.br/pdf/rlpf/v12n2/v12n2a04, De H. Cleckley ao DSM-IV-TR: a evolução do conceito de psicopatia rumo à medicalização da delinquência. Consultado em 06/10/2014.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A Clínica Psicanalítica

 A indissolubilidade entre psicanálise e infância se explica pelo fato de Freud enunciar a infância como a base causal necessária para fundamentar a interpretação dos males da vida psíquica. (Winnicott, conforme tradução de Anzieu, 1974, distingue duas crises importantes na vida de um ser humano depois da infância: a crise de adolescência, que prepara a entrada na vida adulta e a crise da vida adulta que é mais aparente, sendo mais fácil a identificação de seus processos que na vida adulta são mais elaborados do que na juventude. Na vida adulta as pessoas que passaram bem por todas as fases têm capacidade de manter uma serenidade construtiva diante de seu fim, mesmo que sinta o mesmo de forma eminente. Parte superior do formulárioParte superior do formulário

Clínica psicanalítica com Crianças
            A indissolubilidade entre psicanálise e infância se explica pelo fato de Freud enunciar a infância como a base causal necessária para fundamentar a interpretação dos males da vida psíquica. A anamnese com crianças deve levar em conta os pais e todos os vínculos da criança. São inúmeras as possibilidades de técnicas para diferentes atendimentos nas mais diversas situações as quais o ser humano está submetido, a análise de crianças leva a “família” para o divã e não apenas o paciente.
A psicanálise voltada para criança está comemorando cem anos de existência. Sua história começou com Freud ao analisar o pequeno Hans que sofria de sintomas fóbicos. O Historial clínico, 1908 desmobilizou os analistas à escuta dos conflitos, angústias e sofrimentos de crianças e abriu o precedente para a prática analítica de pacientes infantis. Nessa fase, porém a criança era tratada como um adulto em miniatura o que tornava essa prática numa esquisitice da psicanálise. Freud afirmava que a psicanálise não poderia ser feita com crianças. Em 1938, Freud reafirma que a psicanálise feita com crianças era um fracasso. A análise é de fundamental importância para esclarecer as inúmeras variáveis que fazem parte desse emaranhado de situações e é a base para uma correta indicação das possibilidades terapêuticas.
Em 1871, nasce a vienense Hermine-Hug-Hellmuth que é considerada a “inventora da psicanálise de crianças”. Hermine aplica as teorias de Freud à análise das crianças e apresenta, em Haia, no congresso internacional de 1920 o resultado de seus trabalhos com crianças. Em 1927, Sophie K. Morgenstern, polonesa, apresenta sua técnica de análise com crianças por meio de desenhos. Os desenhos das crianças era a técnica paralela da livre associação. Esses trabalhos são precursores das teorias propostas por Anna Freud e Melanie Klein que criaram duas escolas psicanalíticas. Melanie Klein publicou seu livro sobre psicanálise de crianças em 1932, a partir dessa publicação a psicanálise de crianças se consolida e toma cominhos próprios com orientações kleiniana, de Anna Freud e mais tarde winicottiana.
Melanie Klein considera, na análise as relações vinculares da criança com seus familiares, pais, mães e irmãos e considera as brincadeiras das crianças como análogas às livres associações dos adultos. Winnicott tira de Klein as ideias para seus trabalhos psicanalíticos, mas as usam a seu próprio modo. Ele escreve: o que faz com que um bebê comece a existir, a sentir que a vida é real, a achar que a vida vale a pena ser vivida (Winnicott, D. V. A localização da experiência cultural (1967) p.116), era o cuidado maternal. O papel essencial da mãe era proteger o self de seu bebê. As teorias de Klein e Winnicott dão início à “Escola Britânica dos teóricos de relações objetais1”.
Donald Woods Winnicott nasceu em 1896 em Plymouth. Formou-se em medicina especializou-se em pediatria e desenvolveu a partir das teorias de Klein a psicanálise de crianças.
Clínica psicanalítica com adolescentes
Os adolescentes já têm considerado o complexo de Édipo e entram no setting como qualquer adulto, embora haja as especificidades emocionais da própria idade como a busca de identidade, de aceitação, autoafirmação, mudanças corporais na atualidade a geração de jovens é órfã. Seus pais, no geral estão longe de sua infância. Eles foram à escola muito cedo, a partir dos dois anos de idade, no geral. O mal-estar na civilização do século XXI.
Elliott Jaques em “Mort et Crise du Milieu de Vie” conforme tradução de Anzieu, 1974, partindo de Melanie Klein, distingue duas crises importantes na vida de um ser humano depois da infância: a crise de adolescência, que prepara a entrada na vida adulta, segundo Elliott, essa crise tem contorno esquizoparanóide. Anzieu ilustra que criações artísticas da juventude demonstram uma criação contínua, correspondendo à vida sexual dessa idade. A criatividade do jovem é rápida, espontânea, febril, demonstrando a dinâmica das emoções e das paixões. A juventude não pensa na morte, é otimista, reacionária, dinâmica, impaciente. O jovem separa as pulsões de vida e de morte, a pulsão de vida é idealizada introjetada e a pulsão de morte é projetada. Tudo nessa fase é bom, o mal está fora, a morte não lhe concerne.
Com a falência da função paterna a adolescência tem se prolongado e penetrado no comportamento adulto. Muitas vezes os pais se espelham nos filhos imitando-lhes a forma de se vestir, falar e de se comportar. Conforme Nara Dantas (tese de mestrado), bem que se poderia escrever um texto “Sua Majestade o Adolescente”.
            A crise da adolescência se caracteriza por perdas dos ideais e do corpo infantil, do amor aos pais, luto do que não pode mais ser sustentado como verdade. Nos grupos os adolescentes diluem mutuamente essas perdas e criam individuação. Trata-se de identificação horizontais onde cada um descobre sua individualidade nesse processo de mistura. A função fraterna proposta por Kehl (2000 a, p. 31), é diferenciada daquela luta fraticida à qual Freud se refere em “Totem e Tabu”. (1913-1914) ocasionando a morte do pai da horda. Nesse caso o “irmão”, encontrado no ambiente funciona como objeto de desejo e de identificação.
            Clínica psicanalítica da vida adulta
            A crise da meia-idade marca a entrada na vida adulta e, segundo Elliott, descrita por Anzieu, consistiria numa reelaboração da posição depressiva. Essa segunda crise corre por volta dos quarenta anos. Na vida adulta ela é mais aparente, sendo mais fácil a identificação de seus processos. Os processos criativos na vida adulta são mais demorados do que na juventude. O adulto encontra nas suas realizações artísticas prazeres mais espaçados, mais firmes e mais elaborados do que na juventude. As criações, nesta fase demonstram o controle das emoções e das paixões. A elaboração do processo cheia de retoques, detalhes, reflexões, comedimentos reforçam o controle interno do adulto frente à sociedade.
            O ser humano maduro toma consciência de sua morte. Fica atento ao drama da condição humana, mas se resigna frente ao inevitável, “a visão trágica do mundo” de Goldman torna o adulto mais amalgamado com o mundo que o rodeia. Nessa fase vive-se os riscos de depressão de desenvolvimento das defesas maníacas, obsessivas ou hipocondríacas. A ilusão de eternidade da adolescência cede lugar, na maturidade, à certeza da morte. Na vida adulta as pessoas que passaram bem por todas as fases desde o seio bom e mau, Édipo, tem capacidade de desenvolver uma relação mais serena com seu inevitável fim, daí a atitude de coragem, amor compreensão do outro e de sublimação estarão presentes nessa fase da vida. Reforçando que essa maturidade é inerente às realizações das etapas anteriores da vida.
            Para a psicanálise o inconsciente, constituído na infância, através da vivência de etapas pré-edípicas e edípicas revela o cerne do psiquismo. O que se vive depois são revivescências dessa fase. Assim analisar o adolescente e o adulto é investigar a vivência de suas fases infantis dando-lhes oportunidades de encontros com essas fases e possibilitando-lhes, se possível, um novo rearranjo emocional frente aos desafios da vida. A psicanálise, através da relação analista e analisando, propõe uma segunda chance para que o paciente reative, reviva e entenda de uma maneira diferente os problemas de suas relações anteriores para que, eventualmente, haja a possibilidade de modificações das defesas e estratégias do curso da vida.
BIBLIOGRAFIA
ANZIEU,Didier. Psicanálisar. Aparecida, SP. Idéias & Letras, 2006.
PHILLIPS, Adan. Winnicott. Aparecida, SP. Idéias & Letra, 2006.

Revista Psique. Edição especial. Artigo: “Novos Rumos para a Psicanálise”. José Renato Avzaradel, p. 32 a 39 e “Crianças, Cem anos de Existência”. Nara Amália Caron, p. 26 a 31.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

PSICANÁLISE VINCULAR

INTRODUÇÃO
Na psicanálise o vínculo sempre esteve presente ao só ser possível a análise entre paciente e psicanalista se ambos formarem vínculos. O rappot é a concretização do vínculo ao qual estou me referindo. O paciente é um dos polos do vínculo terapêutico. O psicanalista forma o outro polo, nessa linha navega as queixas, sinais, sintomas em direção ao psicanalista e as interpretações psicanalíticas em relação ao paciente. Não há paciente ou psicanalista fora de uma estrutura vincular terapêutica. Na teoria psicanalítica de Freud, o paciente carrega as situações sociais que lhes foram formadoras de neuroses. O tratamento psicanalítico é por excelência vincular.
No tratamento individual a família está virtualmente presente e o psicanalista só pode interferir na mudança de eu das personagens da família do paciente por meios virtuais que se dão a partir da mudança do paciente ligado àquela família. Já no tratamento vincular a família se faz presente dando a possibilidade ao psicanalista de interferir na reelaboração dos vínculos por meio da psicanálise. As relações vinculares entre membros de uma família são realizadas, também, através das manifestações inconscientes e dos “eus” construídos na infância. São as evidências dos complexos que permeiam as relações, que muitas vezes levam aos conflitos entre as pessoas que participam da trama relacional. A inter-relação entre sintoma individual e sintoma familiar é complexa e indissociável. Desta forma os sintomas dos sujeitos contêm e expressam uma versão do mito familiar. O psiquismo é individual, mas inclui o outro com que estamos ou estivemos relacionados.
FREUD E O PEQUENO HANS
As teorias psicanalíticas originais de Freud aplicavam-se a dupla paciente-psicanalista, porém Freud deu início à psicanálise vincular com o caso do pequeno Hans onde o pai fazia parte do setting ao fazer a ponte entre Hans e as interpretações de Freud. Fred usou a vivência do pai para apoiar a interpretação da fobia do pequeno Hans.  O tratamento do pequeno Hans está na gênese da terapia vincular. Seria impossível que esse tratamento se realizasse sem a análise das relações familiares. (Relato Semanal do Pai de Hans: ‘Estimado Professor, junto a este a continuação da história de Hans - e um capítulo bem interessante. Talvez tome a liberdade de ir vê-lo durante as suas horas de consulta, na segunda-feira e, se possível, de levar Hans comigo, na suposição de que ele vá. Hoje eu lhe disse: “Você irá comigo, segunda-feira, para ver o Professor, que é quem pode acabar com a sua bobagem, para seu bem?”). “Naquela tarde, pai e filho me visitaram nas horas de consulta”. E aí Freud  toma conta da análise de Hans, mas sempre fazendo a tríade: pai, mãe e Hans. Posteriormente, Freud introduz no cenário da análise de Hans o nascimento de sua irmãzinha: “A influência mais importante sobre o curso do desenvolvimento psicossexual de Hans foi o nascimento de uma irmãzinha, quando ele estava com três anos e meio. Esse evento acentuou as suas relações com seus pais e lhe deu alguns problemas insolúveis em que pensar; mais tarde, enquanto observava a maneira pela qual o bebê era cuidado, os traços de memória das suas próprias experiências mais remotas de prazer foram reavivados nele. Essa influência é também uma influência típica; em um número inesperadamente grande de históricos de vida, tanto normais quanto patológicos, vemo-nos obrigados a tomar como nosso ponto de partida uma explosão de prazer sexual e de curiosidade sexual ligada, como esta, ao nascimento da criança seguinte”. No sistema desse tipo de análise, Freud toma a iniciativa de acompanhar o curso da família de Hans.
A FAMÍLIA NO DIVÃ
            Quando os pais procuram um psicanalista para um filho o problema do filho pode revelar algum tipo de sintomatologia que ocorre na estrutura inconsciente daquela família. A criança e o adolescente chegam ao setting trazidos pelos pais, ou por quem os substituem. Eles são o problema para a família, mas o psicanalista os vê apenas como o sintoma.
            Com o uso das metáforas mitológicas, Freud demonstra que suas teorias vão além da singularidade de cada paciente. As figuras mitológicas representam as grandes questões humanas e o mito é a forma de expressão da relação do singular para o geral da humanidade.
As bases da Psicanálise em Freud já carrega o gérmen da psicoterapia vincular. Em nenhum momento da teoria freudiana o sujeito é desgarrado de suas origens e de suas interações. Então, o complexo de Édipo envolve pai, mão e filho ou substituto. Essa tríade é a base mais importante da teoria psicanalítica e, no meu ver, uma base vincular. O mito de Édipo é universal. Édipo é considerado o mito fundador de toda civilização. O Édipo passa, primariamente, pelas relações familiares Totem e Tabu tem ligação com a tríade do complexo de Édipo, filho, pai e mãe. A proibição de não matar o totem (pai) e não ter relações sexuais com ele leva Freud à reflexão com o social. Na horda é estabelecido o fio de continuidade do homem individual com a grande coletividade humana. Em Moisés Freud, mais uma vez faz referência ao vínculo social formador do ego e superego. “Não devemos, portanto, nos esquecer  de incluir a influência da civilização entre os determinantes da neurose. Os pormenores da relação entre o ego e o superego tornam-se completamente inteligíveis quando são remontados à atitude da criança para com os pais. Esta influência parental, naturalmente, inclui em sua operação não somente a personalidade dos próprios pais, mas também a família, as tradições raciais e nacionais por eles transmitidas, bem como as exigências do milieu social imediato que representam. Da mesma maneira, o superego, ao longo do desenvolvimento de um indivíduo, recebe contribuições de sucessores e substitutos posteriores aos pais, tais como professores e modelos, na vida pública, de ideais sociais admirados”.
A teoria psicanalítica de Freud carrega teorias que sempre envolvem o outro. Até Narciso, envolve o outro para poder Narciso ser ele se apaixona por si próprio, afasta a libido do mundo externo, não forma vínculos e dirige sua libido para o próprio ego. Na conferência “O estado neurótico comum”, (1917), Freud faz alusão à aplicação da técnica da psicanálise aos estudos das religiões, da civilização e da mitologia, essa forma de abordagem permite o vínculo entre a formação do indivíduo e o contexto cultural no qual o indivíduo está inserido.
Os mitos educam, subjetivam e operam como marcadores de lugares sociais, institucionais e familiares. Freud usou os mitos com perspicácia para embasar toda sua teoria da psicanálise. Numa vamos esgotar a riqueza de Freud, quando os pesquisadores apontam a não razão de Freud pesquisas mais sérias ressurgem suas razões.
CONCLUSÃO
A reação da personalidade total diante da situação-problema esclarece-se à luz da história total de vida do sujeito, o que somos resulta de uma vida anterior. Numa perspectiva evolutiva o passado esclarece o presente. O aparelho psíquico individual se constrói pela interiorização da matriz grupal na qual a criança pequena está imersa. Voltando a Freud se reencontra as bases para uma teoria vincular. O que ocorre é que muitos pegam carona nos ensinamentos de Freud desvirtuando-os para serem vistos como “descobridores de novas teorias”. A psicanálise das configurações vinculares já estava lá. O fato de Freud não ter trabalhado com grupos não quer dizer que não deixou a base para este trabalho. Nesta abordagem procurei demonstrar que Freud vinculou suas descobertas ao individual, familiar, grupal e ao social. A primeira rede vincular é a família, a terapia de grupos pode partir desse conceito. No grupo são muitas reações, muitos olhares, muitas defesas, mas também são muitas revelações já que a humanidade tem formação comum. Para isso serve as matrizes de referências freudianas baseadas na mitologia e na gênese de formação comum a todos nós.
BIBLIOGRAFIA
FREUD, S. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1976. (Edição Standard    Brasileira das Obras Psicológicas Completas).
ANZIEU, Didier. Psicanalisar. Aparecida, S. P: Editora Ideias & Letras. 2006.
MATEUS, Tamires G. Considerações Acerca das Indicações de Atendimento em Psicanálise Vincular (Disponível em www.contemporaneo.org.br/contemporanea.php) Acessado em 04/07/2014.

FERREIRA, Fernando & PINHO, Patrícia. Psicanálise e Teoria da Vinculação. (Disponível em www.psicologia.com.pt documento produzido em 16-0102010. Acessado em 03/07/2014.

sábado, 26 de julho de 2014

O LIVRO NEGRO DA PSICANÁLISE. VIVER, PENSAR E IR MELHOR SEM FREUD

Foram quarenta autores os criadores dessa obra entre eles Mikkel Borch-Jacobsem, Jean Cotraux, Didier Pleux e Jaques Van Rillaer, que em 2005 publicaram os resultados de suas pesquisas para derrubar um único pensador e sua obra: Freud. Certamente não conseguiram e nem conseguirão. O Livro Negro trata a psicanálise como “lenda freudiana” e promete ajudar o ocidente a se livrar dessa lenda. No lugar da psicanálise é colocada a terapia cognitivo-comportamentalista (TCC) e os psicotrópicos. França, Brasil e Argentina são tratados como abrigos de raças inferiores culturalmente e atrasadas. Os Estados Unidos seriam os abrigadores da raça mais pura e intelectualizada que já teriam assassinado a psicanálise e feito sua sepultura. Para uma nação o que vale agora, na era pós-psicanalítica é o cérebro, como máquina e as pílulas com a missão científicas de consertar essa máquina. O sinônimo de evolução é o indivíduo humano desalmado, mecânico e consertável. Todos os psicanalistas são criticados, sem exceção. Os mais atacados são Freud e Lacan. Parece que esses autores prestam serviços aos laboratórios farmacêuticos, devido ao valor intrínseco dado ao uso de psicotrópicos para curar ou tratar todos os males da mente do homem máquina biológica. Banir a psicanálise seria um benefício para a humanidade, como se a humanidade tivesse acesso aos benefícios da mesma. A humanidade pode viver melhor sem Freud, como se isso fosse possível. Freud marcou a passagem do século XIX para o XX que se construiu com ele. Se pudéssemos tirar o pensamento freudiano das mentes deixaríamos um vazio no conhecimento que não seria preenchido por nada.
Os tratamentos mentais propostos pelos autores seriam apenas aqueles fornecidos pelas neurociências e pelas TCC (terapias cognitivas-comportamentais). O livro apresentar o indivíduo humano como sujeito pragmático, dotado apenas de matéria, que se capacita a buscar sua própria autoajuda lançando mão dos psicotrópicos à disposição nas farmácias. A finalidade dos psicotrópicos é normalizar os comportamentos dos indivíduos e eliminar os sintomas mais dolorosos do seu sofrimento psíquico, sem que se busque qualquer significação para o mesmo. Lembrei-me de minha tia que tinha um plano funerário. Quando o marido dela morreu a funerária providenciou tudo para o velório, desde os anúncios fúnebres, sepultura e tudo que foi necessário. A família não precisou se envolver com nada. O que me chamou a atenção foi a presença de uma auxiliar de enfermagem que verificava a pressão arterial dos familiares e dava calmantes a todos que chorassem. Minha tia ficou dopada, já velhinha a coitada, os calmantes foram fortes para ela que perdeu o contato com a realidade e não viu o enterro do marido. Esse episódio a afetou profundamente. Ela não se conformava em não ter podido ao menos ver a saída do marido para o cemitério. Que coisa estranha; as pessoas não enterrarem seus mortos.
 Voltando ao assunto do livro negro: vejo a psicanálise com tanta importância a ponto de merecer o esforço de quarenta estudiosos para escreverem sobre ela. Os psicanalistas devem agradecer os esforços desses escritores que prestaram um grande serviço à psicanálise propagandeando-a. Outro aspecto que o livro deixa entrever é que tudo que não vem dos Estados Unidos é mau. Lógico que os Estados unidos não são esse punhado de caronistas da psicanálise. Eles se insurgem contra a psicanálise, mas não conseguem explicar a imaterialidade do pensamento humano, o porquê dos pensamentos. O cérebro é uma fábrica de pensar, mas há algo além dos pensamentos que os conduzem, estimulam, lhes dão caminhos e os tornam protótipos de modelos imagéticos capazes de serem executados, materializados. A história de vida do sujeito o leva às suas construções mentais e físicas. O pensamento não é apenas físico, mecânico e material. Pode-se dizer que é energia que movimenta o motor da criatividade. As palavras, ações, artes, paisagem, etc. que são exteriores ao sujeito interagem no processo e o auxilia nos seus pensamentos que movimentam o motor histórico da mente individual e ajuda ao ser humano a fazer e refazer permanentemente seus caminhos mentais. Os neurocientistas consideram o pensamento humano como um modelo de computador que trata a informação mecanicamente: O indivíduo recebe informação do meio e as tratam efetuando operações sobre as mesmas e as devolvem ao meio. Parece com as avaliações dos professores que explicam o assunto, o aluno processa o mesmo e o devolve para o professor ver se está de acordo com o que ele ensinou.

"Como julgar Freud ultrapassado quando ainda não o compreendemos totalmente"? Jacques Lacan.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

AUTOPUNIÇÃO

A maioria de nós traz o fator punição gravado na mente. Essa regra não escrita diz que, quando fazemos algo errado, seremos punidos. Algumas pessoas são castigadas pelos pais, outras pelos professores... e, em certos círculos religiosos, há quem seja ameaçado com o maior de todos os castigos: as profunda dos infernos. O condicionamento da punição está tão impregnado na nossa mente que, mesmo não havendo ninguém por perto para nos castigar quando erramos, simplesmente não somos perfeitos, nós nos punimos sem percebermos. Devemos nos lembrar sempre que nada tem significado, exceto aquele que nós mesmos atribuímos às coisas. O que está fora de nós não existe para nós até que lhes prestemos atenção.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

PSICOFARMACOLOGIA

INTRODUÇÃO
Nas décadas de 1960 e 1970 ocorreu no Brasil e em outros países, principalmente Argentina e Estados Unidos, uma espécie de boom da Psicanálise, com uma grande demanda de formação psicanalítica e busca por tratamento. Após esse boom, os psicanalistas sentiram certa perda de prestígio, na medida em que os psiquiatras viam sua importância se elevar com o surgimento dos psicotrópicos, agora, mais eficazes e com menos efeitos colaterais do que os anteriores. As pessoas querem alívio dos sintomas com maior rapidez. No entanto, a Psicanálise é a única forma de tratamento psicológico que se propõe a ir além do alívio de sintomas.
            Na farmacologia o alívio dos sintomas é objetivo imediato dando ao paciente a possibilidade da retomada de certo grau de capacidade para retomar os afazeres de sua vida. O “estar bem” proporcionado pelos psicotrópicos cumpre um papel imediato, mas torna o paciente dependente e ansioso por uma cura que não vem. As doenças mentais têm tratamento, mas não têm cura. O tratamento com medicamentos não transforma o ser humano em sujeito melhor, mas em sujeito que se sente melhor. Não se nega o valor das pesquisas e do uso de psicotrópicos, há enfermidades mentais estruturais para as quais o alívio só pode ser proporcionado através do uso contínuo de medicamentos. O que está em crítica é o uso das pílulas da felicidade que aliena os usuários do seu ser real humano, não lhes proporcionando mudanças na maneira como eles se vêm ou vêm o mundo. As pílulas não têm a indicação de reumanizar as pessoas. Há procedimentos que seriam mais eficazes se articulassem o uso de fármacos com a psicoterapia onde progressivamente os fármacos poderiam ser abandonados sem perigo para o paciente como, por exemplo, nas depressões sazonais, por luto, neuroses, fobias, etc. A indústria farmacêutica tem seu valor, mas não pode vender a felicidade, a paz e o bem-estar frente aos desafios sociais. Os psicotrópicos devem ter indicações em falhas estruturais e não viciar as pessoas saudáveis que passam por momentos emocionais difíceis em suas vidas, alienando-as da realidade que seria enfrentada com mudanças de posturas e consequentemente teria seus desafios resolvidos. A clínica psiquiátrica atual é a clínica das respostas dos pacientes aos psicotrópicos.
            Com o estudo do cérebro e dos neurotransmissores, neuromoduladores e neurotrópicos e das atividades neuroquímicas os pesquisadores se animaram para a “cura” das doenças mentais. Num primeiro momento houve a euforia do bem-estar psicológico, mas atualmente sabe-se que os medicamentos tratam, fazem a manutenção, mas não curam. Saber como funciona não implica em ordenar o funcionamento do cérebro, embora os medicamentos podem “enganar” o cérebro arrumando seu ordenamento que pode se aproximar de um funcionamento normal. A depressão severa, por exemplo, é causada pro um defeito nos neurotransmissores responsáveis pela produção da serotonina e endorfina, que dão a sensação de conforto, prazer e bem-estar. Para o tratamento da depressão severa, estrutural, são usados os antidepressivos que têm por objetivo inibir a receptação dos neurotransmissores e manter um nível elevado dos mesmos na fenda sináptica. Assim o doente se sente melhor.
            O psicanalista não prescreve medicamentos. Sua especialidade não é a medicina, mas ele precisa saber se seu paciente está usando medicamentos e ter noção da ação destes medicamentos no SNC e reflexos do seu paciente, assim como precisa ter noção de endocrinologia, distúrbios hormonais, doenças crônicas etc. Esse procedimento é feito nos primeiros encontros entre paciente e psicanalista na anamnese.
            PSICOFARMACOS
            A pesquisa farmacológica voltada para os psicofarmacos tem evoluído principalmente a partir da segunda metade do século XX que foi chamado de “O Século do Cérebro”. A neuroanatomia se tornou numa ciência importante para a compreensão da ação dos medicamentos na mudança do comportamento humano no sentido de proporcionar uma melhor qualidade de vida àqueles que sofrem de limitações relacionadas ao funcionamento cerebral. Importa saber como funcionam os neurotransmissores e os neurorreceptores do sistema nervoso humano, para que a partir desse conhecimento haja um aprofundamento da gênese dos transtornos mentais estruturais e não estruturais. A psicanálise também tem acompanhado essas pesquisas, pois e importante para os psicanalistas ter conhecimento tanto da ação dos psicofarmacos no cérebro humano, como dos transtornos que podem ser tratados pela análise ou pelos medicamentos. É importante, para o psicanalista e para a família “psi”, o entendimento das disfunções nos sistemas neurorreceptores e suas implicações nos transtornos mentais. Os neurotransmissores são inúmeros e a ciência está longe de identificar todas suas funções como também o processo de equilíbrio causado pelo funcionamento de todos.
            Neste trabalho coloco as funções de alguns neurotransmissores para concluir com as implicações de dois psicofarmacos no sistema cerebral; FENCICLIDINA e DIAZEPINA.
                        Com frequência os receptores são nomeados em função dos elementos químicos aos quais se ligam no laboratório, mesmo quando essas substâncias não são encontradas no cérebro.
            GLUTAMATO
            Sintetizado no cérebro a partir, principalmente da glicose, é um neurotransmissor excitatório que tem relação com as contrações dos músculos. Os neurônios glutamato estão envolvidos na coordenação motora. Nesse sistema há os neurorreceptores aos quais se ligam o glutamato. Os receptores de glutamato (AMPA), NMDA, funcionam por troca de Na+ e K+ (bomba sódios-potássio) e são regulados por um íon de Mg. É um processo de funcionamento de corrente elétrica que tem implicações na aprendizagem, na memória, na esquizofrenia e no abuso de drogas, por exemplo.
            Uma droga que exemplifica a disfunção do processo saudável nesse transmissor glutâmico é a FENCICLIDINA (PCP), pois bloqueia a entrada de cálcio no neurônio. A PCP é um alucinógeno. Os receptores metabotrópicos ativam enzimas que fosforizam os canais de cálcio ativados por voltagem no neurônio, desativando-os, diminuindo a excitabilidade. Aqui a descrição de um neurotransmissor de um modo simples com omissão dos nomes químicos. A FENCICLIDINA (PCP) = “pó de anjo”, foi desenvolvida nos anos 50 do século passado para ser usada como anestésico, mas seu uso foi interrompido em 1962 por causa dos seus efeitos colaterais graves, (ansiedade, delírios e psicoses, por exemplo). É um alucinógeno e foi usado como droga de rua nos anos 60. No ensino médio conhecemos apenas as funções do sódio, do potássio e do magnésio a ativação e bloqueio dessas correntes.
            GABA (Ácido Gama-Amino Butírico).
É sintetizado do glutamato no cérebro. As rotas longas do GABA são complexas. O GABA tem dois receptores, o GABAa que se encontra entre as subunidades a e b. Também é parte de subunidade a, o sítio benzodiazepina, no qual se ligam as drogas como o DIAZEPAM. Quando uma droga anti-ansiedade como um benzodiazepínico se liga a esse sítio, o GABA é mais potente para abrir o canal. Os benzodiazepínicos também são anticonvulsivos potentes. Se os neurônios estão tendo descargas elétricas inadequadas, eles reforçarão o efeito inibidor do GABAm encerrando o ataque. As subunidades diferentes do GABA transmitam diferentes sensibilidades aos benzodiazepínicos. O DIAZEPAM está indicado para sedação basal antes de procedimentos terapêuticos. Em psiquiatria é usado no tratamento de excitação associado à ansiedade aguda e pânico assim como na agitação motora e no delirium tremens. No status epilepticus e convulsões causadas por tétano. Há outros protocolos para o uso do diazepam, ficaria muito extenso este trabalho se fossem abordados todos os empregos do diazepam. São muitos os agonistas usados para todos os tipos de disfunções vitais. Usei apenas dois como exemplo neste estudo. Para mim este estudo foi muito proveitoso e estimulante, pena que não podemos aprofundar mais esse tema.
CONCLUSÃO
O funcionamento dos neurotransmissores regulam todas as nossas atividades vitais tanto do sistema nervoso simpático como parassimpático. Regulam nossas emoções, equilíbrio físico, estado de alerta, sono, aprendizagem, desejos sexuais, enfim, a vida. Resta saber se temos como regular essas funções através de comandos da nossa vontade, como por exemplo, da nossa imaginação. Imaginar um campo com flores amarelas, campo extenso, com flores rasteiras para onde as “vistas” dão e eu no meio desse campo, no meio das flores, o céu azul, uma brisa suave, no horário da meia manhã. Um cheiro suave de natureza pura, um sussurro de vento brando, um envolvimento gostoso de paz. Será que mudei algum padrão de emissão ao pensar e imaginar essa situação? A meditação comprova que o comportamento humano é modificado através do hábito de meditar. Essa força mental pode modificar as respostas que damos à vida. Daí, a importância da área “psi”. Quando não se tem doenças mentais estruturais as terapias podem equilibrar as funções vitais sem o uso de medicamentos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOLART, Cristina Flávia. Neurotransmissão e Sinápses. UNESP – Marília, SP. (acesso: flaviagoulart@.marilia,unesp.br)
STUART A. Forman, Janet Striccharts e Chou, Gary R. Stricarts e Erg H. L. Princípios de Farmacologia do Sistema Nervoso Central.
PETER, Marcio. Questões Preliminares à Psicanálise de Psicóticos. (Palestra proferida na PUC-SP em 11/11/1987 durante a I Semana de Psicanálise). Consultado em www.marciopeter.com.br em 03/07/2014.

Bulas: FENCICLIDINA e DIAZEPAM.

terça-feira, 22 de julho de 2014

NARCISISMO

“ Existe um porre muito antes do álcool. É a bebedeira egoísta e narcisista de ignorar os outros”. Arnaldo Jabor.
                   INTRODUÇÃO 
            As alegorias sobre a mitologia nos dão material para a compreensão da psique humana. Os mitos podem ser considerados como as matrizes da formação do complexo da mente humana. Eles nos dão material fundamental para a discussão dos significados das ações humanas. Para Mesciea Eliade (1972), o mito “fornece os modelos para a conduta humana, conferindo, por isso mesmo, significação e valor à existência”. O mito, como os sonhos, atrelados aos símbolos, são os fundamentos da psicanálise. Neste trabalho será abordado o mito de Narciso para referenciar as etapas da formação do ser humano.
O mito de narciso tem seus primeiros registros por volta do século VIII a.C. É uma narrativa da mitologia grega que remete à construção mental e emocional do ser humano. Freud ainda ­não foi estudado o bastante para que se tenha conhecimento da sua genialidade ao inserir e interpretar os mitos como coadjuvantes na interpretação da psique humana. Na Grécia antiga a vida humana era explicada nos mitos e Freud soube captar esse aspecto da mitologia como ninguém o fez, nem antes e nem depois dele. O ser humano relata, em seu imaginário, aquilo que já faz parte da sua formação psíquica. Segundo Jung todos tem um inconsciente coletivo. Assim o mito de Narciso e outros mitos gregos já pertenciam à formação psíquica do ser humano antes de serem escritos, dramatizados e divulgados. Foi muito sábio a transposição dos conceitos da mitologia para a psique humana.
            A lenda de Narciso foi divulgada por Ovídio em sua metamorfose. Apaixonado por si mesmo viu sua imagem num espelho d’água onde descobriu que o objeto de seu amor era ele mesmo. Até o fim do século XIX, o termo narcisismo foi utilizado pelos sexólogos para designar uma perversão sexual caracterizada pelo amor excessiva que uma pessoa dedica a si própria.
            O NARCISISMO EM FREUD
Freud, ao falar dos invertidos, nos seus “três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, aborda o narcisismo pela primeira vez. Freud escreveu que os invertidos tomem a si próprio como objetos sexuais e, “partindo do narcisismo procuram rapazes semelhantes à sua própria pessoa, a quem quer amar tal como sua mãe o amou”. Freud considerou o narcisismo como um estádio normal da evolução humana. Essa abordagem freudiana é percebida em seu ensaio “Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância”, 1910 e no estudo que fez sobre Schreber em 1911.
            Em 1914, há exatos 100 anos, Freud deu à teoria do narcisismo um conceito psicanalítico e o mesmo passou a ser visto como um estágio normal do desenvolvimento sexual humano.
            O narcisismo é definido como narcisismo primário e narcisismo secundário. O narcisismo primário é infantil. Dá-se quando a criança escolhe a si própria como objeto de seu amor. Após essa fase a criança, aos poucos, vai evoluindo na sua percepção externa e fazendo a transferência do seu amor egoísta para o amor aos objetos em seu entorno, incluindo as pessoas. Freud explica esse comportamento humano como a presença da libido do eu e a libido do objeto e formula a hipótese de um movimento de gangorra entre as duas, de tal sorte que, se uma enriquece, a outra empobrece, e vice-versa. O narcisismo primário é contemporâneo da constituição do eu. Freud define que o amor dos pais por seus bebês é uma forma de ressurgimento do narcisismo primário. Uma opinião pessoal: Penso que o amor que os pais dedicam a seus bebês é um pressuposto para que os bebês formem seu próprio eu, já que o narcisismo primário, segundo Freud, é anterior à construção do eu. Nos pais o bebê tem a possibilidade de fazer a distinção entre si e as outras pessoas. Ele precisa fazer a transição de seu amor a si próprio para o amor aos pais. A criança vai, paulatinamente, deixando de usar os pais em seu benefício e criando outras formas de relações com os objetos as pessoas ao seu redor.
            O narcisismo secundário se caracteriza pela retirada da libido de todos os objetos externos. No caso Schreber, Freud registra que as pesquisas recentes o levaram a mover a atenção para um estádio do desenvolvimento da libido, entre o autoerotismo e o amor objetal. Chega uma ocasião, no desenvolvimento do indivíduo, em que ele reúne seus instintos, que haviam sido dirigidos às atividades auto eróticas e os movem em direção a um objeto amoroso, passando a escolher outra pessoa, que não ela mesma, para o objeto de seu amor.
Em 1914, Freud escreveu um artigo sistematizando o conceito de narcisismo aplicado à psicanálise. Em seu livro “Leonardo” (1910), Ele já havia feito referência ao narcisismo, portanto, já vinha trabalhando a ideia do mito aplicado à psicanálise. Freud usou o mito sexual, mas ele foi além ao abordar no mesmo mito as relações entre a “libido o ego” e a “libido objetal”.
CONCLUSÃO
            O termo narcisismo, empregado para descrever uma situação em que o indivíduo toma a si mesmo como objeto de seu amor, de acordo com dicionário de Esisabeth Roudinesco, foi usado pela primeira vez por Alfred Binet (1857 – 1911), por Havelock Ellis em 1898, para marcar um comportamento perverso relacionado com o mito grego de Narciso. De acordo com os comentários feitos nas obras completas (Stadard Editora), o mito de Narciso foi empregado por Paul Näcke para definir a pessoa que trata o próprio corpo e a forma como é tratada o corpo do objeto sexual.
            O Narcisismo é uma etapa evolutiva normal em todo ser humano e pode, segundo Zimerman, se prolongar ao longo de toda a vida com características absolutamente normais e sadias. É uma forma de autoestima e da pessoa gostar de si mesma, uma vaidade e um orgulho próprio pelo reconhecimento de seus valores e progressos reais. A patologia dá-se quando esse comportamento se dá de uma forma exagerada com transtornos no pensamento e na conduta. Quando o indivíduo apresenta um egocentrismo muito acentuado e uma dificuldade de “olhar” para fora de si mesmo, de ter amor por outras pessoas; o narcisista se transforma num sujeito frágil, que desmorona ao menor sina de frustração. A patologia narcisista não é passível de análise.
Josefa Libório, maio de 2014.

BIBLIOGRAFIA
ELIADE, J. O Poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1993.
FREUD, Sigmund. Obras Psicológicas Completas. Edição Standard Brasileira, Imago Editora, 1976.
ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro, Editora Zahar.
ZIMERMAN, David. Fundamentos Psicanalíticos – Teoria e Clínica – Uma abordagem Didática. Porto Alegre.  Editora Artmed, 1999.
           
           


segunda-feira, 21 de julho de 2014

HOMENAGEM A RUBEM ALVES

Rubem Alves

"Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos
fragmentos de futuro em que a alegria é servida como
sacramento, para que as crianças aprendam que o
mundo pode ser diferente. Que a escola,
ela mesma, seja um fragmento do
futuro..."

No início da década de 80 torna-se psicanalista pela Sociedade Paulista de Psicanálise.

Afirma que é “psicanalista, embora heterodoxo”, pois nela reside o fato de que acredita que no mais profundo do inconsciente mora a beleza. 

A CLÍNICA PSICANALISTA

Este é um trabalho submetido à avaliação da ABEPE. Autoria: Josefa Libório
A Clínica Psicanalítica
Introdução
 A indissolubilidade entre psicanálise e infância se explica pelo fato de Freud enunciar a infância como a base causal necessária para fundamentar a interpretação dos males da vida psíquica. (Winnicott, conforme tradução de Anzieu, 1974, distingue duas crises importantes na vida de um ser humano depois da infância: a crise de adolescência, que prepara a entrada na vida adulta e a crise da vida adulta que é mais aparente, sendo mais fácil a identificação de seus processos que na vida adulta são mais elaborados do que na juventude. Na vida adulta as pessoas que passaram bem por todas as fases têm capacidade de manter uma serenidade construtiva diante de seu fim, mesmo que sinta o mesmo de forma eminente. Parte superior do formulárioParte superior do formulário

Clínica psicanalítica com Crianças
            A indissolubilidade entre psicanálise e infância se explica pelo fato de Freud enunciar a infância como a base causal necessária para fundamentar a interpretação dos males da vida psíquica. A anamnese com crianças deve levar em conta os pais e todos os vínculos da criança. São inúmeras as possibilidades de técnicas para diferentes atendimentos nas mais diversas situações as quais o ser humano está submetido, a análise de crianças leva a “família” para o divã e não apenas o paciente.
A psicanálise voltada para criança está comemorando cem anos de existência. Sua história começou com Freud ao analisar o pequeno Hans que sofria de sintomas fóbicos. O Historial clínico, 1908 desmobilizou os analistas à escuta dos conflitos, angústias e sofrimentos de crianças e abriu o precedente para a prática analítica de pacientes infantis. Nessa fase, porém a criança era tratada como um adulto em miniatura o que tornava essa prática numa esquisitice da psicanálise. Freud afirmava que a psicanálise não poderia ser feita com crianças. Em 1938, Freud reafirma que a psicanálise feita com crianças era um fracasso. A análise é de fundamental importância para esclarecer as inúmeras variáveis que fazem parte desse emaranhado de situações e é a base para uma correta indicação das possibilidades terapêuticas.
Em 1871, nasce a vienense Hermine-Hug-Hellmuth que é considerada a “inventora da psicanálise de crianças”. Hermine aplica as teorias de Freud à análise das crianças e apresenta, em Haia, no congresso internacional de 1920 o resultado de seus trabalhos com crianças. Em 1927, Sophie K. Morgenstern, polonesa, apresenta sua técnica de análise com crianças por meio de desenhos. Os desenhos das crianças era a técnica paralela da livre associação. Esses trabalhos são precursores das teorias propostas por Anna Freud e Melanie Klein que criaram duas escolas psicanalíticas. Melanie Klein publicou seu livro sobre psicanálise de crianças em 1932, a partir dessa publicação a psicanálise de crianças se consolida e toma cominhos próprios com orientações kleiniana, de Anna Freud e mais tarde winicottiana.
Melanie Klein considera, na análise as relações vinculares da criança com seus familiares, pais, mães e irmãos e considera as brincadeiras das crianças como análogas às livres associações dos adultos. Winnicott tira de Klein as ideias para seus trabalhos psicanalíticos, mas as usam a seu próprio modo. Ele escreve: o que faz com que um bebê comece a existir, a sentir que a vida é real, a achar que a vida vale a pena ser vivida (Winnicott, D. V. A localização da experiência cultural (1967) p.116), era o cuidado maternal. O papel essencial da mãe era proteger o self de seu bebê. As teorias de Klein e Winnicott dão início à “Escola Britânica dos teóricos de relações objetais1”.
Donald Woods Winnicott nasceu em 1896 em Plymouth. Formou-se em medicina especializou-se em pediatria e desenvolveu a partir das teorias de Klein a psicanálise de crianças.
Clínica psicanalítica com adolescentes
Os adolescentes já têm considerado o complexo de Édipo e entram no setting como qualquer adulto, embora haja as especificidades emocionais da própria idade como a busca de identidade, de aceitação, autoafirmação, mudanças corporais na atualidade a geração de jovens é órfã. Seus pais, no geral estão longe de sua infância. Eles foram à escola muito cedo, a partir dos dois anos de idade, no geral. O mal-estar na civilização do século XXI.
Elliott Jaques em “Mort et Crise du Milieu de Vie” conforme tradução de Anzieu, 1974, partindo de Melanie Klein, distingue duas crises importantes na vida de um ser humano depois da infância: a crise de adolescência, que prepara a entrada na vida adulta, segundo Elliott, essa crise tem contorno esquizoparanóide. Anzieu ilustra que criações artísticas da juventude demonstram uma criação contínua, correspondendo à vida sexual dessa idade. A criatividade do jovem é rápida, espontânea, febril, demonstrando a dinâmica das emoções e das paixões. A juventude não pensa na morte, é otimista, reacionária, dinâmica, impaciente. O jovem separa as pulsões de vida e de morte, a pulsão de vida é idealizada introjetada e a pulsão de morte é projetada. Tudo nessa fase é bom, o mal está fora, a morte não lhe concerne.
Com a falência da função paterna a adolescência tem se prolongado e penetrado no comportamento adulto. Muitas vezes os pais se espelham nos filhos imitando-lhes a forma de se vestir, falar e de se comportar. Conforme Nara Dantas (tese de mestrado), bem que se poderia escrever um texto “Sua Majestade o Adolescente”.
            A crise da adolescência se caracteriza por perdas dos ideais e do corpo infantil, do amor aos pais, luto do que não pode mais ser sustentado como verdade. Nos grupos os adolescentes diluem mutuamente essas perdas e criam individuação. Trata-se de identificação horizontais onde cada um descobre sua individualidade nesse processo de mistura. A função fraterna proposta por Kehl (2000 a, p. 31), é diferenciada daquela luta fraticida à qual Freud se refere em “Totem e Tabu”. (1913-1914) ocasionando a morte do pai da horda. Nesse caso o “irmão”, encontrado no ambiente funciona como objeto de desejo e de identificação.
            Clínica psicanalítica da vida adulta
            A crise da meia-idade marca a entrada na vida adulta e, segundo Elliott, descrita por Anzieu, consistiria numa reelaboração da posição depressiva. Essa segunda crise corre por volta dos quarenta anos. Na vida adulta ela é mais aparente, sendo mais fácil a identificação de seus processos. Os processos criativos na vida adulta são mais demorados do que na juventude. O adulto encontra nas suas realizações artísticas prazeres mais espaçados, mais firmes e mais elaborados do que na juventude. As criações, nesta fase demonstram o controle das emoções e das paixões. A elaboração do processo cheia de retoques, detalhes, reflexões, comedimentos reforçam o controle interno do adulto frente à sociedade.
            O ser humano maduro toma consciência de sua morte. Fica atento ao drama da condição humana, mas se resigna frente ao inevitável, “a visão trágica do mundo” de Goldman torna o adulto mais amalgamado com o mundo que o rodeia. Nessa fase vive-se os riscos de depressão de desenvolvimento das defesas maníacas, obsessivas ou hipocondríacas. A ilusão de eternidade da adolescência cede lugar, na maturidade, à certeza da morte. Na vida adulta as pessoas que passaram bem por todas as fases desde o seio bom e mau, Édipo, tem capacidade de desenvolver uma relação mais serena com seu inevitável fim, daí a atitude de coragem, amor compreensão do outro e de sublimação estarão presentes nessa fase da vida. Reforçando que essa maturidade é inerente às realizações das etapas anteriores da vida.
            Para a psicanálise o inconsciente, constituído na infância, através da vivência de etapas pré-edípicas e edípicas revela o cerne do psiquismo. O que se vive depois são revivescências dessa fase. Assim analisar o adolescente e o adulto é investigar a vivência de suas fases infantis dando-lhes oportunidades de encontros com essas fases e possibilitando-lhes, se possível, um novo rearranjo emocional frente aos desafios da vida. A psicanálise, através da relação analista e analisando, propõe uma segunda chance para que o paciente reative, reviva e entenda de uma maneira diferente os problemas de suas relações anteriores para que, eventualmente, haja a possibilidade de modificações das defesas e estratégias do curso da vida.
BIBLIOGRAFIA
ANZIEU,Didier. Psicanálisar. Aparecida, SP. Idéias & Letras, 2006.
PHILLIPS, Adan. Winnicott. Aparecida, SP. Idéias & Letra, 2006.
Revista Psique. Edição especial. Artigo: “Novos Rumos para a Psicanálise”. José Renato Avzaradel, p. 32 a 39 e “Crianças, Cem anos de Existência”. Nara Amália Caron, p. 26 a 31.