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terça-feira, 22 de julho de 2014

NARCISISMO

“ Existe um porre muito antes do álcool. É a bebedeira egoísta e narcisista de ignorar os outros”. Arnaldo Jabor.
                   INTRODUÇÃO 
            As alegorias sobre a mitologia nos dão material para a compreensão da psique humana. Os mitos podem ser considerados como as matrizes da formação do complexo da mente humana. Eles nos dão material fundamental para a discussão dos significados das ações humanas. Para Mesciea Eliade (1972), o mito “fornece os modelos para a conduta humana, conferindo, por isso mesmo, significação e valor à existência”. O mito, como os sonhos, atrelados aos símbolos, são os fundamentos da psicanálise. Neste trabalho será abordado o mito de Narciso para referenciar as etapas da formação do ser humano.
O mito de narciso tem seus primeiros registros por volta do século VIII a.C. É uma narrativa da mitologia grega que remete à construção mental e emocional do ser humano. Freud ainda ­não foi estudado o bastante para que se tenha conhecimento da sua genialidade ao inserir e interpretar os mitos como coadjuvantes na interpretação da psique humana. Na Grécia antiga a vida humana era explicada nos mitos e Freud soube captar esse aspecto da mitologia como ninguém o fez, nem antes e nem depois dele. O ser humano relata, em seu imaginário, aquilo que já faz parte da sua formação psíquica. Segundo Jung todos tem um inconsciente coletivo. Assim o mito de Narciso e outros mitos gregos já pertenciam à formação psíquica do ser humano antes de serem escritos, dramatizados e divulgados. Foi muito sábio a transposição dos conceitos da mitologia para a psique humana.
            A lenda de Narciso foi divulgada por Ovídio em sua metamorfose. Apaixonado por si mesmo viu sua imagem num espelho d’água onde descobriu que o objeto de seu amor era ele mesmo. Até o fim do século XIX, o termo narcisismo foi utilizado pelos sexólogos para designar uma perversão sexual caracterizada pelo amor excessiva que uma pessoa dedica a si própria.
            O NARCISISMO EM FREUD
Freud, ao falar dos invertidos, nos seus “três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, aborda o narcisismo pela primeira vez. Freud escreveu que os invertidos tomem a si próprio como objetos sexuais e, “partindo do narcisismo procuram rapazes semelhantes à sua própria pessoa, a quem quer amar tal como sua mãe o amou”. Freud considerou o narcisismo como um estádio normal da evolução humana. Essa abordagem freudiana é percebida em seu ensaio “Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância”, 1910 e no estudo que fez sobre Schreber em 1911.
            Em 1914, há exatos 100 anos, Freud deu à teoria do narcisismo um conceito psicanalítico e o mesmo passou a ser visto como um estágio normal do desenvolvimento sexual humano.
            O narcisismo é definido como narcisismo primário e narcisismo secundário. O narcisismo primário é infantil. Dá-se quando a criança escolhe a si própria como objeto de seu amor. Após essa fase a criança, aos poucos, vai evoluindo na sua percepção externa e fazendo a transferência do seu amor egoísta para o amor aos objetos em seu entorno, incluindo as pessoas. Freud explica esse comportamento humano como a presença da libido do eu e a libido do objeto e formula a hipótese de um movimento de gangorra entre as duas, de tal sorte que, se uma enriquece, a outra empobrece, e vice-versa. O narcisismo primário é contemporâneo da constituição do eu. Freud define que o amor dos pais por seus bebês é uma forma de ressurgimento do narcisismo primário. Uma opinião pessoal: Penso que o amor que os pais dedicam a seus bebês é um pressuposto para que os bebês formem seu próprio eu, já que o narcisismo primário, segundo Freud, é anterior à construção do eu. Nos pais o bebê tem a possibilidade de fazer a distinção entre si e as outras pessoas. Ele precisa fazer a transição de seu amor a si próprio para o amor aos pais. A criança vai, paulatinamente, deixando de usar os pais em seu benefício e criando outras formas de relações com os objetos as pessoas ao seu redor.
            O narcisismo secundário se caracteriza pela retirada da libido de todos os objetos externos. No caso Schreber, Freud registra que as pesquisas recentes o levaram a mover a atenção para um estádio do desenvolvimento da libido, entre o autoerotismo e o amor objetal. Chega uma ocasião, no desenvolvimento do indivíduo, em que ele reúne seus instintos, que haviam sido dirigidos às atividades auto eróticas e os movem em direção a um objeto amoroso, passando a escolher outra pessoa, que não ela mesma, para o objeto de seu amor.
Em 1914, Freud escreveu um artigo sistematizando o conceito de narcisismo aplicado à psicanálise. Em seu livro “Leonardo” (1910), Ele já havia feito referência ao narcisismo, portanto, já vinha trabalhando a ideia do mito aplicado à psicanálise. Freud usou o mito sexual, mas ele foi além ao abordar no mesmo mito as relações entre a “libido o ego” e a “libido objetal”.
CONCLUSÃO
            O termo narcisismo, empregado para descrever uma situação em que o indivíduo toma a si mesmo como objeto de seu amor, de acordo com dicionário de Esisabeth Roudinesco, foi usado pela primeira vez por Alfred Binet (1857 – 1911), por Havelock Ellis em 1898, para marcar um comportamento perverso relacionado com o mito grego de Narciso. De acordo com os comentários feitos nas obras completas (Stadard Editora), o mito de Narciso foi empregado por Paul Näcke para definir a pessoa que trata o próprio corpo e a forma como é tratada o corpo do objeto sexual.
            O Narcisismo é uma etapa evolutiva normal em todo ser humano e pode, segundo Zimerman, se prolongar ao longo de toda a vida com características absolutamente normais e sadias. É uma forma de autoestima e da pessoa gostar de si mesma, uma vaidade e um orgulho próprio pelo reconhecimento de seus valores e progressos reais. A patologia dá-se quando esse comportamento se dá de uma forma exagerada com transtornos no pensamento e na conduta. Quando o indivíduo apresenta um egocentrismo muito acentuado e uma dificuldade de “olhar” para fora de si mesmo, de ter amor por outras pessoas; o narcisista se transforma num sujeito frágil, que desmorona ao menor sina de frustração. A patologia narcisista não é passível de análise.
Josefa Libório, maio de 2014.

BIBLIOGRAFIA
ELIADE, J. O Poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1993.
FREUD, Sigmund. Obras Psicológicas Completas. Edição Standard Brasileira, Imago Editora, 1976.
ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro, Editora Zahar.
ZIMERMAN, David. Fundamentos Psicanalíticos – Teoria e Clínica – Uma abordagem Didática. Porto Alegre.  Editora Artmed, 1999.
           
           


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