Foram quarenta autores os
criadores dessa obra entre eles Mikkel Borch-Jacobsem, Jean Cotraux, Didier
Pleux e Jaques Van Rillaer, que em 2005 publicaram os resultados de suas
pesquisas para derrubar um único pensador e sua obra: Freud. Certamente não
conseguiram e nem conseguirão. O Livro Negro trata a psicanálise como “lenda
freudiana” e promete ajudar o ocidente a se livrar dessa lenda. No lugar da
psicanálise é colocada a terapia cognitivo-comportamentalista (TCC) e os
psicotrópicos. França, Brasil e Argentina são tratados como abrigos de raças
inferiores culturalmente e atrasadas. Os Estados Unidos seriam os abrigadores
da raça mais pura e intelectualizada que já teriam assassinado a psicanálise e
feito sua sepultura. Para uma nação o que vale agora, na era pós-psicanalítica
é o cérebro, como máquina e as pílulas com a missão científicas de consertar
essa máquina. O sinônimo de evolução é o indivíduo humano desalmado, mecânico e
consertável. Todos os psicanalistas são criticados, sem exceção. Os mais
atacados são Freud e Lacan. Parece que esses autores prestam serviços aos
laboratórios farmacêuticos, devido ao valor intrínseco dado ao uso de
psicotrópicos para curar ou tratar todos os males da mente do homem máquina biológica.
Banir a psicanálise seria um benefício para a humanidade, como se a humanidade
tivesse acesso aos benefícios da mesma. A humanidade pode viver melhor sem
Freud, como se isso fosse possível. Freud marcou a passagem do século XIX para
o XX que se construiu com ele. Se pudéssemos tirar o pensamento freudiano das
mentes deixaríamos um vazio no conhecimento que não seria preenchido por nada.
Os tratamentos mentais propostos
pelos autores seriam apenas aqueles fornecidos pelas neurociências e pelas TCC
(terapias cognitivas-comportamentais). O livro apresentar o indivíduo humano
como sujeito pragmático, dotado apenas de matéria, que se capacita a buscar sua
própria autoajuda lançando mão dos psicotrópicos à disposição nas farmácias. A
finalidade dos psicotrópicos é normalizar os comportamentos dos indivíduos e
eliminar os sintomas mais dolorosos do seu sofrimento psíquico, sem que se
busque qualquer significação para o mesmo. Lembrei-me de minha tia que tinha um
plano funerário. Quando o marido dela morreu a funerária providenciou tudo para
o velório, desde os anúncios fúnebres, sepultura e tudo que foi necessário. A
família não precisou se envolver com nada. O que me chamou a atenção foi a
presença de uma auxiliar de enfermagem que verificava a pressão arterial dos
familiares e dava calmantes a todos que chorassem. Minha tia ficou dopada, já
velhinha a coitada, os calmantes foram fortes para ela que perdeu o contato com
a realidade e não viu o enterro do marido. Esse episódio a afetou
profundamente. Ela não se conformava em não ter podido ao menos ver a saída do
marido para o cemitério. Que coisa estranha; as pessoas não enterrarem seus
mortos.
Voltando ao assunto do livro negro: vejo a
psicanálise com tanta importância a ponto de merecer o esforço de quarenta
estudiosos para escreverem sobre ela. Os psicanalistas devem agradecer os
esforços desses escritores que prestaram um grande serviço à psicanálise
propagandeando-a. Outro aspecto que o livro deixa entrever é que tudo que não
vem dos Estados Unidos é mau. Lógico que os Estados unidos não são esse punhado
de caronistas da psicanálise. Eles se insurgem contra a psicanálise, mas não
conseguem explicar a imaterialidade do pensamento humano, o porquê dos
pensamentos. O cérebro é uma fábrica de pensar, mas há algo além dos
pensamentos que os conduzem, estimulam, lhes dão caminhos e os tornam
protótipos de modelos imagéticos capazes de serem executados, materializados. A
história de vida do sujeito o leva às suas construções mentais e físicas. O
pensamento não é apenas físico, mecânico e material. Pode-se dizer que é
energia que movimenta o motor da criatividade. As palavras, ações, artes,
paisagem, etc. que são exteriores ao sujeito interagem no processo e o auxilia
nos seus pensamentos que movimentam o motor histórico da mente individual e
ajuda ao ser humano a fazer e refazer permanentemente seus caminhos mentais. Os
neurocientistas consideram o pensamento humano como um modelo de computador que
trata a informação mecanicamente: O indivíduo recebe informação do meio e as
tratam efetuando operações sobre as mesmas e as devolvem ao meio. Parece com as
avaliações dos professores que explicam o assunto, o aluno processa o mesmo e o
devolve para o professor ver se está de acordo com o que ele ensinou.
"Como julgar Freud
ultrapassado quando ainda não o compreendemos totalmente"? Jacques Lacan.
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