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quarta-feira, 23 de julho de 2014

PSICOFARMACOLOGIA

INTRODUÇÃO
Nas décadas de 1960 e 1970 ocorreu no Brasil e em outros países, principalmente Argentina e Estados Unidos, uma espécie de boom da Psicanálise, com uma grande demanda de formação psicanalítica e busca por tratamento. Após esse boom, os psicanalistas sentiram certa perda de prestígio, na medida em que os psiquiatras viam sua importância se elevar com o surgimento dos psicotrópicos, agora, mais eficazes e com menos efeitos colaterais do que os anteriores. As pessoas querem alívio dos sintomas com maior rapidez. No entanto, a Psicanálise é a única forma de tratamento psicológico que se propõe a ir além do alívio de sintomas.
            Na farmacologia o alívio dos sintomas é objetivo imediato dando ao paciente a possibilidade da retomada de certo grau de capacidade para retomar os afazeres de sua vida. O “estar bem” proporcionado pelos psicotrópicos cumpre um papel imediato, mas torna o paciente dependente e ansioso por uma cura que não vem. As doenças mentais têm tratamento, mas não têm cura. O tratamento com medicamentos não transforma o ser humano em sujeito melhor, mas em sujeito que se sente melhor. Não se nega o valor das pesquisas e do uso de psicotrópicos, há enfermidades mentais estruturais para as quais o alívio só pode ser proporcionado através do uso contínuo de medicamentos. O que está em crítica é o uso das pílulas da felicidade que aliena os usuários do seu ser real humano, não lhes proporcionando mudanças na maneira como eles se vêm ou vêm o mundo. As pílulas não têm a indicação de reumanizar as pessoas. Há procedimentos que seriam mais eficazes se articulassem o uso de fármacos com a psicoterapia onde progressivamente os fármacos poderiam ser abandonados sem perigo para o paciente como, por exemplo, nas depressões sazonais, por luto, neuroses, fobias, etc. A indústria farmacêutica tem seu valor, mas não pode vender a felicidade, a paz e o bem-estar frente aos desafios sociais. Os psicotrópicos devem ter indicações em falhas estruturais e não viciar as pessoas saudáveis que passam por momentos emocionais difíceis em suas vidas, alienando-as da realidade que seria enfrentada com mudanças de posturas e consequentemente teria seus desafios resolvidos. A clínica psiquiátrica atual é a clínica das respostas dos pacientes aos psicotrópicos.
            Com o estudo do cérebro e dos neurotransmissores, neuromoduladores e neurotrópicos e das atividades neuroquímicas os pesquisadores se animaram para a “cura” das doenças mentais. Num primeiro momento houve a euforia do bem-estar psicológico, mas atualmente sabe-se que os medicamentos tratam, fazem a manutenção, mas não curam. Saber como funciona não implica em ordenar o funcionamento do cérebro, embora os medicamentos podem “enganar” o cérebro arrumando seu ordenamento que pode se aproximar de um funcionamento normal. A depressão severa, por exemplo, é causada pro um defeito nos neurotransmissores responsáveis pela produção da serotonina e endorfina, que dão a sensação de conforto, prazer e bem-estar. Para o tratamento da depressão severa, estrutural, são usados os antidepressivos que têm por objetivo inibir a receptação dos neurotransmissores e manter um nível elevado dos mesmos na fenda sináptica. Assim o doente se sente melhor.
            O psicanalista não prescreve medicamentos. Sua especialidade não é a medicina, mas ele precisa saber se seu paciente está usando medicamentos e ter noção da ação destes medicamentos no SNC e reflexos do seu paciente, assim como precisa ter noção de endocrinologia, distúrbios hormonais, doenças crônicas etc. Esse procedimento é feito nos primeiros encontros entre paciente e psicanalista na anamnese.
            PSICOFARMACOS
            A pesquisa farmacológica voltada para os psicofarmacos tem evoluído principalmente a partir da segunda metade do século XX que foi chamado de “O Século do Cérebro”. A neuroanatomia se tornou numa ciência importante para a compreensão da ação dos medicamentos na mudança do comportamento humano no sentido de proporcionar uma melhor qualidade de vida àqueles que sofrem de limitações relacionadas ao funcionamento cerebral. Importa saber como funcionam os neurotransmissores e os neurorreceptores do sistema nervoso humano, para que a partir desse conhecimento haja um aprofundamento da gênese dos transtornos mentais estruturais e não estruturais. A psicanálise também tem acompanhado essas pesquisas, pois e importante para os psicanalistas ter conhecimento tanto da ação dos psicofarmacos no cérebro humano, como dos transtornos que podem ser tratados pela análise ou pelos medicamentos. É importante, para o psicanalista e para a família “psi”, o entendimento das disfunções nos sistemas neurorreceptores e suas implicações nos transtornos mentais. Os neurotransmissores são inúmeros e a ciência está longe de identificar todas suas funções como também o processo de equilíbrio causado pelo funcionamento de todos.
            Neste trabalho coloco as funções de alguns neurotransmissores para concluir com as implicações de dois psicofarmacos no sistema cerebral; FENCICLIDINA e DIAZEPINA.
                        Com frequência os receptores são nomeados em função dos elementos químicos aos quais se ligam no laboratório, mesmo quando essas substâncias não são encontradas no cérebro.
            GLUTAMATO
            Sintetizado no cérebro a partir, principalmente da glicose, é um neurotransmissor excitatório que tem relação com as contrações dos músculos. Os neurônios glutamato estão envolvidos na coordenação motora. Nesse sistema há os neurorreceptores aos quais se ligam o glutamato. Os receptores de glutamato (AMPA), NMDA, funcionam por troca de Na+ e K+ (bomba sódios-potássio) e são regulados por um íon de Mg. É um processo de funcionamento de corrente elétrica que tem implicações na aprendizagem, na memória, na esquizofrenia e no abuso de drogas, por exemplo.
            Uma droga que exemplifica a disfunção do processo saudável nesse transmissor glutâmico é a FENCICLIDINA (PCP), pois bloqueia a entrada de cálcio no neurônio. A PCP é um alucinógeno. Os receptores metabotrópicos ativam enzimas que fosforizam os canais de cálcio ativados por voltagem no neurônio, desativando-os, diminuindo a excitabilidade. Aqui a descrição de um neurotransmissor de um modo simples com omissão dos nomes químicos. A FENCICLIDINA (PCP) = “pó de anjo”, foi desenvolvida nos anos 50 do século passado para ser usada como anestésico, mas seu uso foi interrompido em 1962 por causa dos seus efeitos colaterais graves, (ansiedade, delírios e psicoses, por exemplo). É um alucinógeno e foi usado como droga de rua nos anos 60. No ensino médio conhecemos apenas as funções do sódio, do potássio e do magnésio a ativação e bloqueio dessas correntes.
            GABA (Ácido Gama-Amino Butírico).
É sintetizado do glutamato no cérebro. As rotas longas do GABA são complexas. O GABA tem dois receptores, o GABAa que se encontra entre as subunidades a e b. Também é parte de subunidade a, o sítio benzodiazepina, no qual se ligam as drogas como o DIAZEPAM. Quando uma droga anti-ansiedade como um benzodiazepínico se liga a esse sítio, o GABA é mais potente para abrir o canal. Os benzodiazepínicos também são anticonvulsivos potentes. Se os neurônios estão tendo descargas elétricas inadequadas, eles reforçarão o efeito inibidor do GABAm encerrando o ataque. As subunidades diferentes do GABA transmitam diferentes sensibilidades aos benzodiazepínicos. O DIAZEPAM está indicado para sedação basal antes de procedimentos terapêuticos. Em psiquiatria é usado no tratamento de excitação associado à ansiedade aguda e pânico assim como na agitação motora e no delirium tremens. No status epilepticus e convulsões causadas por tétano. Há outros protocolos para o uso do diazepam, ficaria muito extenso este trabalho se fossem abordados todos os empregos do diazepam. São muitos os agonistas usados para todos os tipos de disfunções vitais. Usei apenas dois como exemplo neste estudo. Para mim este estudo foi muito proveitoso e estimulante, pena que não podemos aprofundar mais esse tema.
CONCLUSÃO
O funcionamento dos neurotransmissores regulam todas as nossas atividades vitais tanto do sistema nervoso simpático como parassimpático. Regulam nossas emoções, equilíbrio físico, estado de alerta, sono, aprendizagem, desejos sexuais, enfim, a vida. Resta saber se temos como regular essas funções através de comandos da nossa vontade, como por exemplo, da nossa imaginação. Imaginar um campo com flores amarelas, campo extenso, com flores rasteiras para onde as “vistas” dão e eu no meio desse campo, no meio das flores, o céu azul, uma brisa suave, no horário da meia manhã. Um cheiro suave de natureza pura, um sussurro de vento brando, um envolvimento gostoso de paz. Será que mudei algum padrão de emissão ao pensar e imaginar essa situação? A meditação comprova que o comportamento humano é modificado através do hábito de meditar. Essa força mental pode modificar as respostas que damos à vida. Daí, a importância da área “psi”. Quando não se tem doenças mentais estruturais as terapias podem equilibrar as funções vitais sem o uso de medicamentos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOLART, Cristina Flávia. Neurotransmissão e Sinápses. UNESP – Marília, SP. (acesso: flaviagoulart@.marilia,unesp.br)
STUART A. Forman, Janet Striccharts e Chou, Gary R. Stricarts e Erg H. L. Princípios de Farmacologia do Sistema Nervoso Central.
PETER, Marcio. Questões Preliminares à Psicanálise de Psicóticos. (Palestra proferida na PUC-SP em 11/11/1987 durante a I Semana de Psicanálise). Consultado em www.marciopeter.com.br em 03/07/2014.

Bulas: FENCICLIDINA e DIAZEPAM.

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