INTRODUÇÃO
Nas
décadas de 1960 e 1970 ocorreu no Brasil e em outros países, principalmente
Argentina e Estados Unidos, uma espécie de boom da Psicanálise, com uma grande
demanda de formação psicanalítica e busca por tratamento. Após esse boom, os
psicanalistas sentiram certa perda de prestígio, na medida em que os
psiquiatras viam sua importância se elevar com o surgimento dos psicotrópicos,
agora, mais eficazes e com menos efeitos colaterais do que os anteriores. As
pessoas querem alívio dos sintomas com maior rapidez. No entanto, a Psicanálise
é a única forma de tratamento psicológico que se propõe a ir além do alívio de
sintomas.
Na farmacologia o alívio dos sintomas
é objetivo imediato dando ao paciente a possibilidade da retomada de certo grau
de capacidade para retomar os afazeres de sua vida. O “estar bem” proporcionado
pelos psicotrópicos cumpre um papel imediato, mas torna o paciente dependente e
ansioso por uma cura que não vem. As doenças mentais têm tratamento, mas não
têm cura. O tratamento com medicamentos não transforma o ser humano em sujeito
melhor, mas em sujeito que se sente melhor. Não se nega o valor das pesquisas e
do uso de psicotrópicos, há enfermidades mentais estruturais para as quais o
alívio só pode ser proporcionado através do uso contínuo de medicamentos. O que
está em crítica é o uso das pílulas da felicidade que aliena os usuários do seu
ser real humano, não lhes proporcionando mudanças na maneira como eles se vêm
ou vêm o mundo. As pílulas não têm a indicação de reumanizar as pessoas. Há
procedimentos que seriam mais eficazes se articulassem o uso de fármacos com a
psicoterapia onde progressivamente os fármacos poderiam ser abandonados sem
perigo para o paciente como, por exemplo, nas depressões sazonais, por luto,
neuroses, fobias, etc. A indústria farmacêutica tem seu valor, mas não pode
vender a felicidade, a paz e o bem-estar frente aos desafios sociais. Os
psicotrópicos devem ter indicações em falhas estruturais e não viciar as
pessoas saudáveis que passam por momentos emocionais difíceis em suas vidas,
alienando-as da realidade que seria enfrentada com mudanças de posturas e
consequentemente teria seus desafios resolvidos. A clínica psiquiátrica atual é
a clínica das respostas dos pacientes aos psicotrópicos.
Com o estudo do cérebro e dos
neurotransmissores, neuromoduladores e neurotrópicos e das atividades
neuroquímicas os pesquisadores se animaram para a “cura” das doenças mentais.
Num primeiro momento houve a euforia do bem-estar psicológico, mas atualmente
sabe-se que os medicamentos tratam, fazem a manutenção, mas não curam. Saber
como funciona não implica em ordenar o funcionamento do cérebro, embora os
medicamentos podem “enganar” o cérebro arrumando seu ordenamento que pode se
aproximar de um funcionamento normal. A depressão severa, por exemplo, é
causada pro um defeito nos neurotransmissores responsáveis pela produção da
serotonina e endorfina, que dão a sensação de conforto, prazer e bem-estar.
Para o tratamento da depressão severa, estrutural, são usados os
antidepressivos que têm por objetivo inibir a receptação dos neurotransmissores
e manter um nível elevado dos mesmos na fenda sináptica. Assim o doente se
sente melhor.
O psicanalista não prescreve medicamentos.
Sua especialidade não é a medicina, mas ele precisa saber se seu paciente está
usando medicamentos e ter noção da ação destes medicamentos no SNC e reflexos
do seu paciente, assim como precisa ter noção de endocrinologia, distúrbios
hormonais, doenças crônicas etc. Esse procedimento é feito nos primeiros
encontros entre paciente e psicanalista na anamnese.
PSICOFARMACOS
A pesquisa farmacológica voltada
para os psicofarmacos tem evoluído principalmente a partir da segunda metade do
século XX que foi chamado de “O Século do Cérebro”. A neuroanatomia se tornou
numa ciência importante para a compreensão da ação dos medicamentos na mudança
do comportamento humano no sentido de proporcionar uma melhor qualidade de vida
àqueles que sofrem de limitações relacionadas ao funcionamento cerebral.
Importa saber como funcionam os neurotransmissores e os neurorreceptores do
sistema nervoso humano, para que a partir desse conhecimento haja um
aprofundamento da gênese dos transtornos mentais estruturais e não estruturais.
A psicanálise também tem acompanhado essas pesquisas, pois e importante para os
psicanalistas ter conhecimento tanto da ação dos psicofarmacos no cérebro
humano, como dos transtornos que podem ser tratados pela análise ou pelos
medicamentos. É importante, para o psicanalista e para a família “psi”, o
entendimento das disfunções nos sistemas neurorreceptores e suas implicações
nos transtornos mentais. Os neurotransmissores são inúmeros e a ciência está
longe de identificar todas suas funções como também o processo de equilíbrio
causado pelo funcionamento de todos.
Neste trabalho coloco as funções de
alguns neurotransmissores para concluir com as implicações de dois
psicofarmacos no sistema cerebral; FENCICLIDINA e DIAZEPINA.
Com
frequência os receptores são nomeados em função dos elementos químicos aos
quais se ligam no laboratório, mesmo quando essas substâncias não são
encontradas no cérebro.
GLUTAMATO
Sintetizado no cérebro a partir,
principalmente da glicose, é um neurotransmissor excitatório que tem relação
com as contrações dos músculos. Os neurônios glutamato estão envolvidos na
coordenação motora. Nesse sistema há os neurorreceptores aos quais se ligam o
glutamato. Os receptores de glutamato (AMPA), NMDA, funcionam por troca de Na+
e K+ (bomba sódios-potássio) e são regulados por um íon de Mg. É um processo de
funcionamento de corrente elétrica que tem implicações na aprendizagem, na
memória, na esquizofrenia e no abuso de drogas, por exemplo.
Uma droga que exemplifica a
disfunção do processo saudável nesse transmissor glutâmico é a FENCICLIDINA
(PCP), pois bloqueia a entrada de cálcio no neurônio. A PCP é um alucinógeno.
Os receptores metabotrópicos ativam enzimas que fosforizam os canais de cálcio
ativados por voltagem no neurônio, desativando-os, diminuindo a excitabilidade.
Aqui a descrição de um neurotransmissor de um modo simples com omissão dos
nomes químicos. A FENCICLIDINA (PCP) = “pó de anjo”, foi desenvolvida nos anos
50 do século passado para ser usada como anestésico, mas seu uso foi
interrompido em 1962 por causa dos seus efeitos colaterais graves, (ansiedade,
delírios e psicoses, por exemplo). É um alucinógeno e foi usado como droga de
rua nos anos 60. No ensino médio conhecemos apenas as funções do sódio, do
potássio e do magnésio a ativação e bloqueio dessas correntes.
GABA (Ácido Gama-Amino Butírico).
É
sintetizado do glutamato no cérebro. As rotas longas do GABA são complexas. O
GABA tem dois receptores, o GABAa que se encontra entre as subunidades a e b.
Também é parte de subunidade a, o sítio benzodiazepina, no qual se ligam as
drogas como o DIAZEPAM. Quando uma droga anti-ansiedade como um
benzodiazepínico se liga a esse sítio, o GABA é mais potente para abrir o
canal. Os benzodiazepínicos também são anticonvulsivos potentes. Se os
neurônios estão tendo descargas elétricas inadequadas, eles reforçarão o efeito
inibidor do GABAm encerrando o ataque. As subunidades diferentes do GABA
transmitam diferentes sensibilidades aos benzodiazepínicos. O DIAZEPAM está
indicado para sedação basal antes de procedimentos terapêuticos. Em psiquiatria
é usado no tratamento de excitação associado à ansiedade aguda e pânico assim
como na agitação motora e no delirium tremens. No status epilepticus e convulsões
causadas por tétano. Há outros protocolos para o uso do diazepam, ficaria muito
extenso este trabalho se fossem abordados todos os empregos do diazepam. São
muitos os agonistas usados para todos os tipos de disfunções vitais. Usei
apenas dois como exemplo neste estudo. Para mim este estudo foi muito
proveitoso e estimulante, pena que não podemos aprofundar mais esse tema.
CONCLUSÃO
O
funcionamento dos neurotransmissores regulam todas as nossas atividades vitais
tanto do sistema nervoso simpático como parassimpático. Regulam nossas emoções,
equilíbrio físico, estado de alerta, sono, aprendizagem, desejos sexuais,
enfim, a vida. Resta saber se temos como regular essas funções através de
comandos da nossa vontade, como por exemplo, da nossa imaginação. Imaginar um
campo com flores amarelas, campo extenso, com flores rasteiras para onde as
“vistas” dão e eu no meio desse campo, no meio das flores, o céu azul, uma
brisa suave, no horário da meia manhã. Um cheiro suave de natureza pura, um
sussurro de vento brando, um envolvimento gostoso de paz. Será que mudei algum
padrão de emissão ao pensar e imaginar essa situação? A meditação comprova que
o comportamento humano é modificado através do hábito de meditar. Essa força
mental pode modificar as respostas que damos à vida. Daí, a importância da área
“psi”. Quando não se tem doenças mentais estruturais as terapias podem
equilibrar as funções vitais sem o uso de medicamentos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
GOLART,
Cristina Flávia. Neurotransmissão e Sinápses. UNESP – Marília, SP. (acesso: flaviagoulart@.marilia,unesp.br)
STUART
A. Forman, Janet Striccharts e Chou, Gary R. Stricarts e Erg H. L. Princípios
de Farmacologia do Sistema Nervoso Central.
PETER,
Marcio. Questões Preliminares à Psicanálise de Psicóticos. (Palestra proferida
na PUC-SP em 11/11/1987 durante a I Semana de Psicanálise). Consultado em www.marciopeter.com.br em
03/07/2014.
Bulas:
FENCICLIDINA e DIAZEPAM.
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