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quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Pandemia e restauração do sujeito

    Em tempos de guerra Freud reviu algumas de suas posturas, como em 1920 quando revisou a teoria dos sonhos como realização de desejos a partir dos sonhos daqueles que estiveram na primeira guerra mundial. Então a psicanálise está posta para servir e como tal precisa se repensar em tempos de pandemia.
    Quem está vivendo o luto e a dor quer pressa de sua sanação. Muitas vezes o psicanalista é consultado por pessoas que buscam respostas rápidas para amenizar seus sofrimentos. Nessa hora a psicanálise não deve se prestar à panaceias, por interesses mercenários e nem tão pouco deve abandonar as pessoas que se confiam na sua ajuda.
    Então como a psicanálise deve ajudar às pessoas que a procuram em tempo de pandemia? As catástrofes e pandemias desencadeiam surtos psicóticos e delirantes nas pessoas com histórico de síndromes e transtornos. Dificilmente pessoas saudáveis emocionalmente não saibam resolver seus lutos e dores resinificando-os. Essas pessoas, por vezes, precisam de apoio emocional e por questões do afastamento social, trazido pela pandemia, a psicanálise surge como opção de ajuda para a restauração do sujeito. O luto, nessa pandemia da covid 19, existe de várias formas, tanto para quem perdeu parentes e ente queridos, como para os demais que viram muitos sonhos morrer. É como se o mundo que conhecíamos deixasse de existir e nós percebêssemos que temos que trabalhar para o surgimento de um novo mundo, onde seja possível reinventar a felicidade verdadeira, não a felicidade falsa, trazida pela tecnologia, como escreve Aldous Huxley. A psicanálise ajuda a esse sujeito que a procura a se reconstruir, proporcionando-lhe a oportunidade de poder se olhar dentro desse novo cenário que está nascendo.  O indivíduo precisa falar e se reconhecer na sua fala. O psicanalista é o espelho que proporciona, ao sujeito, a reflexão de si mesmo.
    Nem tudo está perdido. É preciso observar que a pomba branca, mais cedo ou mais tarde, trará o galhinho de esperança preso ao bico para anunciar que um mundo novo começa a surgir fora da arca do confinamento. Aquele mundo se foi, devemos nos imergir nesse novo mundo que nasce e nos reconhecer como sujeitos construtores. É preciso olhar para fora de nós para podermos nos ver como sujeitos capazes de interagir com o novo.
    A pandemia contribuiu para concluir a globalização da pior forma possível, atingiu a todos, independente de lugar, cor, situação financeira, etc. Ela disseminou o sofrimento pela Terra sem respeitar fronteiras, destruiu o mundo conhecido e cabe-nos, na impossibilidade de reconstruir o mundo, construir um mundo novo, mais igual, solidário, menos violento e mais irmão, onde uns se importem com os outros, independente de sua condição. Onde todos se conscientizem que estamos na mesma arca. 
    O psicanalista pode ajudar tirando Noé e sua família para fora da arca e mostrando-lhes que o mundo espera para um novo recomeço.

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