Os sonhos sempre despertaram fascinação na humanidade. Há religiões, incluindo a religião judaica, que interpretam alguns sonhos como comunicação de Deus com o homem. Na Bíblia há vários relatos que confirmam essa teoria; como os sonhos do faraó, de Jacó, de José, esposo da mãe de Jesus, e tantos outros.
Na contemporaneidade o ser humano começa a usar a ciência para desvendar a função dos sonhos. Freud, pai da psicanálise, sugeriu muitas funções para os sonhos, a mais pertinente é de que os sonhos são realizações de desejos, depois ele reviu essa teoria, em 1920. Para Jung os sonhos mostram os conteúdos da psique sob uma representação como pessoas, objetos e situações que refletem os padrões mentais. Mas vamos apenas tratar os sonhos como uma ferramenta auxiliar na revelação dos traumas e de conteúdos inconscientes. Mesmo porque cada sonho pertence a um sonhador com todas suas circunstâncias de vida.
A psicanálise tem nos sonhos uma ferramenta de acesso ao inconsciente. Durante o sono a mente se mantém ativa e solta, sem censuras. O sonho é uma atividade fisiológica normal que ajuda o sonhador a descarregar emoções vividas tanto no presente como no passado, pois a mente é atemporal. Os sonhos têm o papel de atenuar as perturbações psicológicas e restaurar o sujeito. O ser humano sempre carregará na mente resquícios de situações por resolver. A grande importância do sono é que ele é condição para o equilíbrio psicológico e para a saúde física das pessoas. Sem o sono reparador a mente, memória, emoções e, por tabela, a saúde física entram em colapso.
Segundo Freud "O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente", (Freud 1898). Para analisar os sonhos é preciso que psicanalista tenha acesso à história de vida da pessoa que sonhou, pelo menos através da anamnese que deve ser bem abrangente. Não é só apresentar um sonho ao psicanalista e querer uma interpretação do mesmo. É preciso saber quem é o sonhador. Uma maneira simples de interpretar sonhos também pode ser feita de forma reversa, isto é, conhecer o sonhador a partir de seus sonhos. Para mim mais trabalhoso, mas é uma forma de se caminhar na psicanálise. Lembrar que os sonhos não são a única ferramenta de trabalho na psicanálise. Também tem importância o dito, o não dito. O lembrado e o esquecido. Os gestos e posturas. Os desenhos, rabiscos e pinturas. o comparecimento e as faltas ao setting analítico. As afirmações e contradições, os sonhos lembrados e os esquecidos. É importante saber que o esquecimento dos sonhos também tem a ver com as fases do sono.
Também ter acesso ao inconsciente para quê? O importante na psicanálise é ajudar à pessoa a se conhecer e a reconhecer os motivos que a levam a ter determinados comportamentos que a fazem sofrer. O papel do psicanalista é ler e interpretar o sujeito sem as distorções que ele, sujeito, mostra nas suas manifestações. Não é o psicanalista quem revela o sujeito. Quem se revela é o próprio sujeito em análise. O psicanalista é apenas o espelho que ajuda a essa revelação. Quem não é artista enxerga uma pedra e quer fazer da pedra uma obra de arte. O artista enxerga uma obra de arte que precisa ser retirada da pedra. A importância da psicanálise não está nas ferramentas utilizadas, mas no sujeito analisado. É o ser humano que precisa se apropriar de si mesmo e emergir para uma vida plena e feliz, se isso é possível. Pelo menos a psicanálise deve ajudá-lo a vencer o sofrimento trazido por suas "feras" interiores.
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